A MAGIA NA ANTIGUIDADE E MODERNIDADE PARTE II


A Magia, cujos ensinamentos e princípios mais profundos são mantidos até hoje em segredo, é conhecida desde a mais alta antiguidade.  

Nessa segunda parte de nosso ensaio, estaremos descrevendo alguns aspectos da história da magia desde a Idade Média até o século XVIII. Denominada de feitiçaria, a magia assumiu aspectos ocultos e tétricos, constituindo um dos maiores pesadelos desses séculos de obscurantismos, conhecido como “Idade das Trevas”.


1. A MAGIA NA IDADE MÉDIA

Foi a crença no diabo, nos pactos selados com sangue, no comércio com seres inteligentes não-humanos, os assim chamados “elementais” - que, segundo registros da época, chegavam a se materializar e a adquirir os caracteres de súcubus (femininos) e incubus (masculinos), entidades que procuravam coito carnal com as criaturas humanas.

Além do relacionamento pessoal com Satã, haviam os Shabath - ocasião esta de reunião e encontros das (os) feiticeiras (os). Reza a lenda que Satã, codinome do “Mestre Leonard”, sob a forma de BPHMTH (lê-se Bafomét), com corpo humano e pés de cabra - tal qual os antigos faunos gregos - presidiam as reuniões que terminavam em luxúrias sem limites.

Xilogravura Medieval de BHPHMTH

2. O SHABATH

A fim de se prepararem para o Shabath, feiticeiros e feiticeiras costumavam ungir-se com pomadas consideradas mágicas, a base de beladona e meimendro, matérias primas do ópio, i.e., substâncias entorpecentes e alucinatórias potentes.

2.1 - O Empirismo de Gassendi

Pierre Gassendi (1592-1655), segundo a narrativa histórica, foi um filósofo e cientista, contrariando a filosofia de Descartes, defendeu o retorno à doutrina de Epicuro, ou seja, ao empirismo (enfatizando a experiência dos sentidos), ao hedonismo (sustentando ser o prazer o bem), e à física corpuscular (com a realidade feita de partículas atômicas).
Ele buscou conciliar o atomismo mecanicista com a crença cristã na imortalidade da alma, vontade livre, um Deus infinito e a criação. Em certa experiência do Shabath, ele conta sua experiência: ” Tendo pedido a um feiticeiro que lhe facilitasse os meios de comparecer a uma dessas cerimônias, este o levou a certo lugar onde bebeu uma droga e ofereceu a Gassendi.

Gassendi fingiu ingerir o líquido e presenciou o feiticeiro cair em sono profundo. Este, ao acordar, cumprimentou o filósofo pela consideração com que fora tratado por Baphometh, no Shabath, ao qual ambos haviam comparecido!

A seguir, Gassendi fez uma pomada opiácea e aplicou-a em camponeses persuadidos de que iriam ao Shabath. Dormiram. Ao acordarem, descreveram com detalhes a experiência do Shabath que haviam presenciado...

Infelizmente, eles acreditaram em tudo o que presenciaram enquanto o transe alucinatório. Por conta desse “delírio coletivo”, milhares foram levados à fogueira e, até o momento de suas mortes, estavam certos de que haviam visto o diabo e tomado parte em cerimônias satânicas.

2.2. A Possessão de Catarina Polus

Com apenas oito anos de idade, Catarina Polus e os demais membros de sua família, declararam-se consagrado ao demônio. Essa história é descrita por pelo historiador Charles Lancelin em sua "Obra Histoire Mythique de Shatan", publicada em Paris, em 1903.

Muitas feiticeiras, ao serem presas, empenhavam-se em terrível luta contra o sono, a fim de não serem desmascaradas. Só era possível comparecer ao Shabath em estado onírico. Não é de admirar que numa época em que a superstição predominava, a ignorância prejudicava a adequada interpretação desses fenômenos. Logo, a morte era eminente aos que acreditavam na realidade desses delírios (ou crenças).

São Francisco em Exorcismo - Quadro Goya
De acordo com REINACH (1967), os processos de magia tornaram-se comuns. O Papa Inocêncio VIII, através da Bula: Summus desiderentes affectibus, de 1484, confirmou o poder das feiticeiras germânicas, o que provocou a queima de aproximadamente 100.000 pessoas, pela inquisição. 

Versão Ucraniana Original do Malleus Maleficarum, 1496.
Fonte: Amazon.

Sob o reinado de Carlos IX, foram queimados 30.000 feiticeiros. Os processos de feitiçaria deram motivos para perseguições. 

Delações, espionagem, enfim, uma série enorme de crimes e de injustiças, em que ignorância, maldade, vingança e interesses políticos e pecuniários se mesclavam derramando sangue inocente.

Qualquer sinal no corpo poderia ser prova de feitiçaria, desde simples verrugas, mamilos supranumerários, manchas anestésicas, seja por hanseníase, seja por urticária.

O livro Malleus Maleficarum ( O Martelo dos Feiticeiros), dos dominicanos Heinrich Kramer e Johann Spranger, descrevia as práticas de feitiçaria e dava os sinais de possessão demoníaca, bem como as instruções para lidar com os feiticeiros.

3. ERA DE IGNORÂNCIA OU MALDADE?
Inquisição Medieval - Condenação dos Feiticeiros 

O processo era conduzido de tal maneira que bastava ser acusado para ser condenado, pois se um nevus ou uma verruga bastavam para confirmar a feitiçaria. Contudo, a ausência de sinais não provava o contrário, ao ponto do juiz Boguett, dizer, na época: Os maiores feiticeiros eram aqueles que não traziam marca alguma, pois o diabo as apagava!

Certamente eu não sobreviveria com esta Nevus em forma de coelho. Acervo Próprio.

No ordálio do afogamento, o acusado era atirado à água, dentro de um saco, com os pés e mãos amarrados. Se submergisse era prova de inocência, mas morria afogado. Se não submergisse, era prova de pacto com o diabo e seria morto na fogueira.

Prática Normanda de Julgamento pela Água.

Muitos condenados eram portadores de algum sofrimento mental, epilepsia, transtornos comportamentais e antissociais, histéricos, psicóticos, etc. Alguns por apresentarem qualidades psi1, tais como: telepatia, vidência, precognição, dentre outras, eram condenados à fogueira, porque naquela época, essas qualidades eram tidas por sinais de possessão demoníaca.


CONTINUA...

Chris Viana

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1  - Dedicarei um artigo exclusivo a esse assunto em breve.

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