Confissões ao diabo – Seu Sentido na Religião Contemporânea
Quanto podemos questionar do sentido da religião?
Na contemporaneidade seria possível assumir as confissões ao diabo como agente de D’us?
Warlok
Medieval - Foonte: Imghulk.com |
Mas voltando aos anos
2000, acumulamos muitos dados e percebemos que muitos tratados ocultistas
estavam sendo usados em igrejas pentecostais.
Se sabiam disso, nunca
descobrimos, mas muito do que era a magia medieval, estava de cara nova, nesses
movimentos que chamariam mais tarde de Teologia da Libertação.
Encaramos esse desafio.
Precisávamos traçar um paralelo e compreender o porquê da crítica aos
ocultistas, se as ferramentas eram semelhantes, e a figura do diabo, central
nesses rituais de exorcismo (ou libertação)?
A situação estava se
complicando cada vez mais, pois os tratados de demonologia com maior conteúdo
do inferno, eram escritos não mais por ocultistas, mas por cristãos que teriam
sido levados ao próprio inferno para descrever a hierarquia satânica.
Tínhamos mais informação
sobre o inferno e seus demônios, que Reino de D’us na Terra! Tudo isso começou
a me incomodar. Os cristãos estavam justificando todo esse frenesi, a um
Avivamento. No Seminário, estudando o panorama histórico do deste tema, fiquei
ainda mais confusa: o que tinha a ver tanto demônio com avivamento?
Mais uma vez a figura do
diabo (ou diabos) estava como tema central. Ao questionar o lugar de D’us junto
ao que deveriam ser os seus precursores, me deparei com Nietzsche: D’us está
morto! (A Gaia Ciência, 2005).
Ora, se D’us está morto,
o diabo venceu a guerra? Mais uma descoberta: como criatura de D’us, o diabo
jamais o poderia vencê-lo! Como? Diabo, criatura? Não é a Bíblia a réplica do
Zend Avesta: não existe dois deuses? A confusão só aumentava!
Este triste fim de uma
geração de engano, onde muitos fenômenos que me assustavam já não surtiam
efeito tal, me levaram a compreender não mais o diabo como era figurado, mas
como um agente de D’us.
Depois de 4375 exemplares
lidos, escolhi a Bíblia, afinal, eu havia feito a escolha por Cristo, e
desejava conhecer mais desta figura, que realmente feriu o tempo e criou a
grande cicatriz na humanidade, que somente viria ser sanada pelo Seu amor.
Meu medo agora havia sido
mortificado pelo amor. Não que o diabo tenha deixado de existir, mas seu
sentido não era mais o mesmo, logo a razão de tanto pavor, não mais procedia.
Iniciei então a grande
missão da minha vida: levar os que me cercam a compreender que o Reino de D’us
jamais foi material e que Ele está acima do bem e do mal. Ele criou o Bem e o
Mal:
“Eu sou o Senhor, e não há outro; fora de mim não há Deus; eu te cingirei, ainda que tu não me conheças; para que se saiba desde a nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro. Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas. (Isaías 45:5-7)
A primeira palavra יוֹצֵר
“Yotser” – formo – deve ser entendida como “Eu sou o formador (da luz)”. E o
verbo וּבוֹרֵא “uvoreh” → como “Eu sou o criador (das trevas). “
A conotação desses dois
verbos não está relacionada às questões ligadas à moral. O mal aqui seria
conotativo de irregular, imperfeito, calamidade. Como resultado, consequências
de sucessões de escolhas.
Esse criar é diferente do
verbo Barah: criar do nada (ex-nihilo) encontrado em Gênesis 1.
Ao depararmos ainda com
textos do profeta Zacarias 3, versos 1 e 2, temos:
“E
ele mostrou-me o sumo sacerdote Josué, o qual estava diante do anjo do SENHOR,
e Satanás estava à sua mão direita, para se lhe opor. Mas o Senhor disse a
Satanás: O Senhor te repreenda, ó Satanás, sim, o Senhor, que escolheu
Jerusalém, te repreenda; não é este um tição tirado do fogo? ”
A palavra (שָּׂטָן) tem
sentido de adversário e tem relação com o verbo (לְשָׂטָ֖ן) que significa “se
opor”. No entanto, o nome pessoal para Satanás na Bíblia Hebraica é significado
adicionando o prefixo “o” (ה), mas formar “o Satanás” como em Jó 1:6.
Em ambas as passagens,
encontramos a persona de Satanás como um mero acusador, coma função de agir de
acordo com a permissão da Deidade.
Nos foge o espaço neste
artigo, uma exegese mais aprofundada da questão. Mas sabemos que influências
babilônicas tiveram grande papel na elaboração de suas crenças, baseadas na
cosmogonia persa do conflito cósmico Ahura Mazda e Angra Mainyu.
Sem contar que a fusão do
paganismo com o cristianismo pelo imperador Constantino permitiu um sincretismo
ainda maior, que resultou os ensaios e tratados da demonologia medieval.
Mas em pleno século XXI,
onde se encontra o diabo? Nesse momento histórico enfrentamos um novo desafio
quanto a definição do que um dia veio a ser denominado Diabo, ainda que seja em
seu sentido.
Os primeiros cristãos
fundamentaram seus preceitos éticos na Lei de D’us: Torah. Baseado nos 10
mandamentos, a qual atribuíam derivar os pecados, mas resumido por Cristo em
apenas dois: Amarás o Senhor teu D’us sobre todas as coisas e a seu próximo
como a si mesmo.
Para muitos judeus ainda
prevalece a Lei da Torá. Ao cristianismo não procede. Para os islamitas resta a
Xariá, resultada do Al Corão e outros textos de Maomé.
Kant discute acerca desses códigos morais em um de seus ensaios, e conclui que:
“Precisamos de leis para regrar nossa sociedade e a gênese do processo civilizatório a partir de um estado de direito; porém alguns conceitos de moral estariam bem distantes da razão […]”
(Kant, 1974).
Apesar de dar a entender
que matara D’us em seus alguns de seus ensaios, Nietzsche, não mencionava um
“assassinato”, mas ressaltava que o deus patriarcal dos judeus, copiados pelos
cristãos, responsável pelas leis religiosas, não mais representaria a sociedade
contemporânea.
Certas representações e
concepções religiosas sempre existiram, originaram-se independente de tradições
ou migração dos povos (Jung, 1966).
Os ritos, crenças e
mitos, perpetuaram por séculos e ainda hoje encontram sentidos nas mais diversas
culturas. O sentido que damos é o que diviniza ou não a deidade ou a forma que
cremos.
Hoje a forma que dou ao
diabo se restringe à escolha do comportamento humano abusivo e ofensivo. Um
espírito não pode ferir a matéria. Mas humanos destroem humanos e deve ser
responsabilizado por isso.
Como se não bastassem
destruir a si mesmo a partir de guerras e violências afins, destroem a mãe
natureza e tudo que poderíamos chamar de D’us, no contexto da criação.
Não é D’us quem castiga
ou destrói a criação, e muito menos um arquétipo ou figura demoníaca, mas
homens gananciosos e soberbos que, por conta de suas soberbas consomem tudo que
chama pelo bem e pela luz.
Penso que essa seria a
síndrome de Lúcifer. O portador da luz, a profanou com as trevas do egoísmo e
da ignorância.
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