ANTROPOLOGIA RELIGIOSA SEMELHANÇA OU MERA COINCIDÊNCIA - PARTE I

ANTROPOLOGIA RELIGIOSA 

SEMELHANÇA OU MERA  COINCIDÊNCIA - PARTE I


Este ano foi realmente "o ano cultural" na minha carreira autodidata de Pesquisas Culturais e Filosofia da Religião. Elaboramos um plano de curso para irmos à Turquia, mais precisamente em Bérgama - província de Izmir; a fim de concluir a segunda parte da minha tão cobrada Biografia. Mas como a bíblia diz: " O homem faz planos, mas é D’us quem guia os seus passos”.
Em meados de junho, recebi a direção para ir a Àfrica. Na minha busca cultural pelas raízes da religião primitiva entre as nações, me deparei com o desafio de estudar de perto uma etnia quase esquecida: os Bakongos. Dedicarei um capítulo deste Blog para narrar minhas descobertas que estão em fase de conclusão. Minhas pesquisas em Antropologia têm servido para aprimorar inclusive a minha "fé", pois quanto mais "futuco", mas "coincidências" no tocante ao comportamento religioso humano, descobrimos.

A Religião na Antiguidade

       As civilizações da Antiguidade eram politeístas. Para elas a origem do mundo e os fenômenos eram explicados por mitos.  As civilizações gregas e romanas eram politeístas e pagãs, mas desenvolveram, e nos deixaram um sistema filosófico, jurídico e científico que até hoje influencia a vida política, social e cultural de toda a humanidade.Nas sociedades do Antigo Egito e na Mesopotâmia, o poder político era exercido em nome de um deus que tinha atributos humanos.
A sociedade judaica foi a primeira a elaborar uma religião monolátrica (criam em Um único D'us porém não descartavam a existências de outros - mesmo que considerados falsos sob a Lei Mosaica - Ex. Baalins.) -   e até os dias atuais o D'us fundador dessa sociedade contribui para a organização da vida de mais de três bilhões de pessoas.
       Os gregos deixaram para as sociedades atuais uma mitologia, uma filosofia e um acervo artístico que forneceram muitos elementos para a formulação do cristianismo. O cristianismo nasceu, cresceu e se desenvolveu durante o Império Romano, e Roma, a antiga sede desse império, é hoje a cidade que abriga a sede da Igreja Católica, o Vaticano.    

      Há semelhanças na religião das sociedades gregas, egípcias, babilônicas e hebréias, apesar de algumas seguirem a via politeísta e outras a monolatria:

  • Adoravam várias divindades ligadas às forças da natureza;
  • Representavam suas divindades na forma humana (antropomórfica), de animais (zoomórficas) e da mistura de seres humanos com animais (antropozoomórficas); no caso dos hebreus cito os Terafins (ídolos do lar)
  • Acreditavam na existência de uma vida após a morte. 
  •  A crença da vida após a morte era uma das principais características egípcias. 
     
     Para os sumérios (povos da Mesopotâmia), os deuses eram invisíveis, antropomórficos, mas mortais e com poderes sobrenaturais.
    O Império Babilônico absorveu muito da religião suméria. Além da característica de religião politeísta, podemos acrescentar a crença em gênios, demônios e heróis, o desprezo pela vida além- túmulo e as práticas da magia e adivinhações.

     O Império Assírio destacou-se pelo militarismo e a prática da guerra de conquistas.
     O rei era considerado um enviado do deus.

         Essas são apenas algumas das enormes semelhanças que o espaço não me permite traçar. Porém meu objetivo principal ao escrever este artigo é discutir o contexto psico-antropológico referente Estruturalismo.

Em Psicologia veremos a referência do Estruturalismo nas obras de Lacan, que associou os conceitos Freudianos sobre o inconsciente às teorias de Strauss. Lacan nutria grande admiração pelo Antropólogo e sempre declarou que grande parte do seu trabalho fora inspirado em suas obras.

Foi a partir da análise das relações sociais, sob o enfoque de sua função estrutural, que Lévi-Strauss articulou as bases para o desenvolvimento estruturalista do conceito de cultura, recuperando o tema da “totalidade social”, agora sob uma nova perspectiva; a perspectiva estruturalista. Desse ponto de vista, Lévi-Strauss concebe a cultura como um conjunto de sistemas simbólicos, onde cada um deles sendo distinto do outro, estão integrados, formando uma “totalidade social”, conforme se pode inferir de suas palavras na Introdução ao "Essai sur le Don" (Ensaio sobre a dádiva) de Marcel Mauss:

“Toda cultura pode ser considerada como um conjunto de sistemas simbólicos. No primeiro plano destes sistemas colocam-se a linguagem, as regras matrimoniais, as relações econômicas, a arte, a ciência, a religião. Todos esses sistemas buscam exprimir certos aspectos da realidade física e da realidade social, e mais ainda das relações que estes dois tipos de realidade estabelecem entre si e que os próprios sistemas simbólicos estabelecem uns com os outros.” (LÉVI-STRAUSS In MAUSS, 1988 [1950], p. 9).

            Portanto, pode-se dizer que o estruturalismo concebe a cultura essencialmente como sistema simbólico, ou como uma configuração de sistemas simbólicos, onde a ênfase é colocada sobre a lógica simbólica e nas conexões entre essa lógica e a estrutura social. Entretanto, na conexão entre o “pensado” e o “vivido” não há uma relação direta entre estrutura e realidade empírica, isto porque, não temos consciência imediata dos elementos estruturais e estruturantes da ordem vivida – do Social. Assim sendo, a passagem da ordem vivida (estrutura social como realidade empírica) para a ordem concebida (estrutura social como modelo abstrato) se faz pela investigação dos modelos inconscientes.(Fonte:NCPAM)


A partir de estudos psico-antropológicos de alguns ethos, nos deparamos com a cultura dos Sonacirema, que apresenta um estado psicológico coletivo de interessante observação. O antropólogo de um modo em geral, tornou-se tão familiarizado com a diversidade de modos com que diferentes povos reagem diante de situações similares, que ele não consegue se surpreender com os costumes mais exóticos possíveis. Com efeito, se quaisquer entre todas as combinações logicamente possíveis de comportamento não tiverem sido encontradas em alguma parte do mundo, ele tem o direito de suspeitar que elas devem estar presentes em alguma tribo ainda não estudada. Esta observação já foi realmente feita por Murdock, no que diz respeito à organização clânica. Neste sentido, as crenças e práticas mágicas dos Sonacirema apresentam aspectos tão pouco usuais, que nos parece importante descrevê-las como exemplo dos extremos a que comportamento humano pode chegar.
O prof. Linton foi o primeiro a chamar a atenção dos antropólogos para o complexo ritual dos Sonacirema, há vinte anos atrás, mas a cultura deste povo é ainda pouco compreendida. Os Sonacirema são um grupo norte-americano que vivem no território que se estende desde os Cree do Canadá aos Yaqui e Tarahumara do México, aos Caribe e Arauque das Antilhas. Pouco se sabe quanto a sua origem, embora a tradição mítica afirme que eles vieram do leste...
A cultura Sonacirema se caracteriza por uma economia de mercado altamente desenvolvida, que se beneficiou de um habitat cultural rico. Embora a maior parte do tempo das pessoas, nesta sociedade, seja devotada à ocupação econômica, uma grande porção de frutos destes trabalhos e uma considerável parte do dia são despendidas em atividades rituais. O foco destas atividades é o corpo humano, cuja aparência e saúde constituem a preocupação dominante dentro do ethos deste povo. Embora tal tipo de preocupação não seja realmente pouco comum, seus aspectos cerimoniais e a filosofia aí implícitas são únicos. 
      A crença fundamental subjacente a todo sistema parece ser a de que a corpo humano é feio, e que sua tendência natural é a debilidade e a doença. Encarcerado em tal corpo, a única esperança do homem é evitar estas características, através do uso de poderosas influências do ritual e da cerimônia. Todo o grupo doméstico possui um ou mais santuários dedicados a tal propósito. Os indivíduos mais poderosos desta sociedade têm vários  santuários em sua casa e, de fato a opulência de uma casa é freqüentemente aferida em termos da quantidade dos centros de rituais que abriga. A maioria das casas é de taipa, mas o santuário dos mais ricos tem as paredes cobertas de pedra. As famílias mais pobres imitam os ricos, aplicando placas de cerâmica nas paredes dos seus santuários. 

    Embora cada família possua ao menos um destes santuários, os rituais a eles associados não são cerimoniais familiares, mas sim privados e secretos. Os ritos, normalmente, só são discutidos com a crianças, e isto apenas durante a fase em que elas estão sendo iniciadas nestes mistérios.
O ponto focal do santuário é uma caixa ou arca embutida na parede. Nesta arca são guardados os inúmeros feitiços e porções mágicas, sem os quais nenhum nativo acredita que poderia viver. Tais feitiços e porções são obtidos de vários profissionais  especializados.  
     Dentre estes, os mais poderosos são os curandeiros, cujos serviços devem ser retribuídos por meio de presentes substanciais. No entanto, o curandeiro não fornece as porções curativas para os seus clientes, decidindo apenas os ingredientes que nelas devem entrar, escrevendo-as em seguida em uma linguagem antiga e secreta. Tal escrito só pode ser decifrado pelo curandeiro e pelos herbanários os quais mediante outros presentes fornecem o feitiço desejado.

       O feitiço não é descartado depois de ter servido a seu propósito, mas sim é colocado na caixa de mágica do santuário doméstico. Como estes materiais mágicos são específicos  para certas doenças, e considerando-se que as doenças reais ou imaginárias deste povo são muitas, a caixa de mágicas costuma estar sempre transbordando. Os pacotes mágicos são tão numerosos que as pessoas esquecem sua serventia original, e temem usá-los de novo. 
Embora os nativos tenham-se mostrado vagos em relação a esta questão, só podemos concluir que a idéia subjacente ao costume de se guardar todos os velhos materiais mágicos, é a de que sua presença na caixa de mágica, diante da qual os rituais do corpo são encenados, protegerá de alguma forma o fiel.
        Embaixo da caixa de mágicas existe uma pequena fonte. Todo dia cada membro da família, em sucessão, entra no quarto do santuário, curva a cabeça diante da caixa de mágica, mistura diferentes tipos de água sagrada na fonte realiza um breve rito de ablução. As águas são obtidas do Templo da água da comunidade, aonde os sacerdotes conduzem elaboradas cerimônias para manter líquido ritualmente puro.
       Na hierarquia dos profissionais da magia e abaixo do curandeiro em termos de prestígio, estão os especialistas cuja designação é mais bem traduzida por “homem-da-boca-sagrada”.  
        Os Sonacirema têm um horror pela boca e uma fascinação por ela que chega às raias da patologia. Acredita-se que a condição da boca possui uma influência sobrenatural nas relações sociais. Não fosse pelos rituais da boca, os Sonacirema acham que seus dentes cairiam, suas gengivas sangrariam, suas mandíbulas encolheriam, seus amigos os abandonariam, seus amantes os rejeitariam. Eles também acreditam na experiência de uma forte relação entre características orais e morais. 
        Assim, por exemplo, existe uma ablução ritual da boca das crianças que se considera como forma de desenvolver sua fibra moral.
       O ritual do corpo cotidianamente realizado por todos inclui um rito bucal. Apesar de sabermos que este povo é tão meticuloso no que diz respeito ao cuidado da boca, este rito envolve uma prática que o estrangeiro não-iniciado não consegue deixar de achar repugnante. 

 O rito consiste na inserção de um pequeno feixe de cerdas de porco na boca, juntamente com certos pós mágicos, e em seguida na movimentação deste feixe segundo uma série de gestos altamente formalizados. Além deste rito bucal privado, as pessoas procuram o homem-da-boca-sagrada uma ou duas vezes por ano. 
Estes profissionais possuem uma impressionante parafernália, que consiste em uma variedade de perfuratrizes, furadores, sondas e agulhas. O uso deste objeto no exorcismo dos perigos da boca implica uma quase e inacreditável tortura ritual do cliente.

O homem-da-boca-sagrada abre a boca do cliente e, usando as ferramentas citadas, alarga qualquer buraco que o uso tenha feito nos dentes. Materiais mágicos são então depositados nestes buracos.
Se não se encontram buracos naturais nos dentes, grandes seções de um ou mais dentes são serrados, para que a substância sobrenatural  possa ser aplicada. Na imaginação do cliente, o objetivo destas aplicações é deter o  apodrecimento dos dentes e atrair amigos. O caráter extremamente sagrado e tradicional do mito fica evidente no fato de que os nativos retornam todo ano ao homem-da-boca-sagrada, embora seus dentes continuem a se de deteriorar.
Deve-se esperar que, quando um estudo sobre a estrutura de personalidade deste nativo. Basta observar o brilho nos olhos de um homem-da-boca-sagrada, quando ele enfia uma agulha em um nervo exposto, para que se suspeite de que certa dose de sadismo está presente. Se isto puder ser verificado, uma configuração muito interessante emergirá,  posto que a maioria da população mostre tendência masoquistas bem definidas. Era a  tais tendências que o professor Linton se referia, ao discutir uma parte especial do ritual cotidiano de corpo, que é apenas realizada pelos homens. Esta parte do tiro envolve uma arranhadura e laceração da superfície do rosto por meio de um instrumento cortante. 

       Ritos femininos especiais ocorrem somente quatro vezes por mês lunar, mais o que lhes falta em freqüência lhes sobre em barbárie. Como parte desta cerimônia, as mulheres  assam suas cabeças em pequenos fornos durante mais ou menos uma hora. O ponto teoricamente interessante é que um povo dominantemente masoquista desenvolve especialistas sádicos.       
Os curandeiros possuem um templo imponente, o latipsoh, em cada comunidade de algum tamanho. As cerimônias mais elaboradas, necessárias para o tratamento de pacientes muito doentes, só podem ser realizadas neste templo. Tais cerimônias envolvem são só o taumaturgo, mas também um grupo permanente de vestais que se  movimentam nas câmaras do templo com uma roupa penteado distintivos.
       As cerimônias latipsoh são tão violentas que chega a ser fenomenal o fato que uma razoável proporção dos nativos realmente doentes que entram no templo consiga curar-se. Crianças pequenas, cuja doutrinação é ainda incompleta, costumam resistir às tentativas de levá-las ao templo. Alegando que “é aonde você vai para morrer”. Apesar disso, os doentes adultos não apenas desejam, como ficam ansiosos para submeter-se à prolongada purificação ritual, se eles possuem meios para tanto. Os guardiões de muitos templos não importam quão doente o suplicantes ou quão grave a emergência é, não admitem o cliente se ele não puder dar um rico presente ao zelador. Mesmo depois que se conseguiu a admissão e se sobreviveu ás cerimônias, os guardiões não permitem a saída do neófito até que este dê ainda outro presente.
        O(a) suplicante, ao entrar no templo, é primeiramente despido(a) de todas as suas roupas. Na vida cotidiana os Sonacirema evitam a exposição de seus corpos em suas funções naturais. O banho e a excreção são realizados somente na intimidade do santuário doméstico, aonde são ritualizados, fazendo parte dos ritos corporais. A súbita perda da privacidade corporal, ao se entrar na latipsoh, costuma causar um choque psicológico.
            Um homem, cuja própria mulher jamais viu quando ele realizava um ato excretório, de repente encontra-se nu, assistido por uma vestal enquanto executa suas funções naturais dentro de um vaso sagrado. Este tipo de tratamento cerimonial é necessário porque as excreções são usadas por um adivinho para diagnosticar o curso e a natureza da doença do paciente. Os clientes femininos, por seu lado, vêm seus corpos nus submetidos aos escrutínios, manipulação e espetadelas dos curandeiros.

   Poucos suplicantes no tempo estão suficientemente bem para fazer qualquer coisa que não seja ficar deitados em suas camas duras. As cerimônias, como os já citados ritos do home-da-boca-sagrada, implicam desconforto e tortura. Com precisão ritual, as vestais acordam a cada madrugada seus miseráveis pacientes, rolam-nos em seus leitos de dor enquanto realizam abluções, cujos movimentos formalizados são objeto de treinamento intensivo das vestais. Em outros momentos elas inserem varas mágicas na boca do paciente, ou obrigam-no a comer substâncias que são consideradas curativas. De tempos em tempos os curandeiros vêm a seus pacientes e atiram agulhas magicamente tratadas em sua carne. O fato de que estas cerimônias do templo possam não curar, ou possam mesmo matar o neófito, não diminui de modo algum a fé do povo nos curandeiros.
Ainda resta outro tipo de especialista, conhecido como um “escutador”. Este feiticeiro tem o poder de exorcizar os demônios que se alojam nas cabeças das pessoas que foram enfeitiçadas. Os Sonacirema acreditam que os pais fazem feitiçaria entre seus próprios filhos. As mães são especialmente suspeitas de colocarem uma maldição na criança, enquanto ensinam a elas os ritos corporais secretos. A contra-magia do feiticeiro “escutador” é singular por sua relativa ausência de ritual. O paciente simplesmente conta ao “escutador” todos os seus problemas e medos, começando com as primeiras dificuldades de que pode se lembrar. A memória exibida pelos Sonacirema nestas sessões do exorcismo é verdadeiramente notável. Não é incomum que o paciente lamente a rejeição que sentiu ao ser desmamado, e alguns indivíduos chegam a localizar seus problemas nos efeitos traumáticos de seu próprio nascimento.

Para concluirmos, deve mencionar-se certas práticas que estão baseadas na estética nativa, mas que dependem da aversão generalizada ao corpo e às funções naturais. Há jejuns rituais para fazer pessoas gordas ficarem magras, e banquetes cerimoniais para fazer pessoas magras ficarem gordas. Outros ritos ainda são usados para fazer os seios das mulheres maiores, se eles são pequenos, e menores, se eles são grandes. Uma insatisfação geral com a forma dos seios é simbolizada pelo fato de que a forma ideal está virtualmente fora do espectro da variação humana. Umas poucas mulheres

Que sofrem de um quase inumano desenvolvimento hipermamário são tão idolatradas que podem viver muito bem através de simples viagens pelas aldeias, permitindo aos nativos admirá-las diante de uma taxa. Já fizemos referências ao fato de que as funções excretórias são ritualizadas, rotinizadas, e relegadas ao domínio ao domínio do secreto. As funções reprodutivas naturais são igualmente destorcidas.

O intercurso sexual é tabu como tópico de conversa, e programado e planejado enquanto ato. Grandes esforços são feitos para evitar a gravidez por meio de uso de materiais mágicos, ou pela limitação do intercurso e certas fases da lua.
A concepção é realmente muito pouco freqüente. Quando grávidas, as mulheres se vestem de forma a ocultar seu estado. O parto se realiza em segredo, sem amigos ou parentes assistindo, e a maioria das mulheres não amamenta nem cuida dos seus bebês.

           Nossa descrição da vida ritual dos Sonacirema certamente mostrou que eles são um povo obcecado pela magia. É difícil compreender como eles conseguiram sobreviver por tanto tempo debaixo dos pesados fardos que eles mesmos se impuseram. Mas mesmo costumes tão exóticos quanto estes ganham seu verdadeiro sentido quando encarados a partir do esclarecimento feito por Malinowski quando escreveu: “olhando de cima e de longe, dos lugares seguros e elevados da civilização desenvolvida, é fácil ver toda rudeza e a irrelevância da magia. Mas sem este poder e este guia, o homem primitivo não poderia ter dominado as dificuldades práticas como fez. Nem poderia ter avançado até os mais altos estágios da civilização” ** 

            As semelhanças dos Sonaciremas com povos tribais africanos é muito grandes em alguns aspectos ritualísticos, e isto estará sendo postando futuramente. 
Levi-Strauss tem como base de sua análise a articulação entre natureza e cultura, enquanto que Freud está preocupado com o conteúdo inconsciente contido na cultura, e para estudá-lo desenvolve um processo analítico do comportamento psicológico dos povos. 
            Espero que nossa contribuição nos leve a meditar acerca das questões culturais que nos cercam, e ao estudante de psicologia os desafios comportamentais e experimentais. 
 Nacirema nada mais é do que "american" de trás para frente, e o texto narra, na forma de um estudo antropológico, o cotidiano dos estadunidenses na época em que o texto foi escrito.

Ele nos faz pensar em algumas situações para análise:

1) Nossa sociedade dita "normal" e nossas práticas cotidianas. Quantas coisas verdadeiramente sem sentido fazem sentido?
Se parássemos para analisar e questionar, ainda as faríamos?

2) Como julgamos as civilizações antigas e diferentes das nossas. Os povos arcaicos eram realmente tão pouco desenvolvidos e diferentes de nós? Os relatos que fazemos e encontramos sobre os povos passados retratam a realidade ou apenas nossa visão preconceituosa e prepotente, em que precisamos reduzir esses povos a "bárbaros incultos e supersticiosos", para que nossa civilização "racional e científica" possa se considerar superior?

3)Podemos classificar sua cultura como patologia? 





REFERÊNCIAS CITADAS

- LINTON, RALPH 1936 The Study of Man. NewYork, D. Appleton-Century Co.
- MALINOWSKI, BRONISLAW 1948 Magic, Science, and Religion. Glencoe, The Free Press
- MURDOCK, GEORGE P. 1949 Social Structure. New Y ork, The Macmillan Co.

** Publicação original: “Body ritual among the Nacirema”, American Anthropologist, Vol. 58, n° 3 (1956). p. 503-507.

Comentários

  1. Muito bom seu material sobre os povos Nacirema to precisando de material sobre esses povos para um trabalho na faculdade mas não encontro muita coisa tudo que consegui foi um texto muito vago se poder mandar umas fotos dos ritos e algum material seri muito grato.
    Gil neves

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  2. OLá Gilcivaldo, Obrigada pelos elogios. Creia que tudo que escrevo e posto é com muito cuidado e desejo que venha colaborar para âmbito de pesquisas culturais, sociais e antropológicas, e por que não religiosas? Não sei qual é a sua graduação, mas fato este é narrado por ti, quando expressa a vagueza das informações, seu comentario é pertinente e nos motiva a melhorar a disponibilidade dessas pesquisas e materiais sugeridos. Se tratando de bibliografia, sugiro Pesquisas de Levì Strauss, por esse se tratar de um pesquisador ímpar em povos aborígenes e de etnias indígenas americanas e também Mircea Eliade, um renome em história da religião e culturas xamânicas e animistas. Os Naciremas não se resumem a dinastias pré ou pós colombianas e não são ameríndios de origens. Existem muitas partes obscuras em relação a este povo, principalmente no mapeamento antropológico. Vou te sugerir uma literatura em português de Jocimar Daolio: "Da Cultura do Corpo" - uma sugestão para ampliar seus conhecimentos, caso já não tenha lido. No demais, mande-me seu e-mail pessoal e poderei lhe enviar alguns títulos e arquivos para auxiliá-lo em suas pesquisas. Foi um prazer! Abraço, Christianne.

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