ANTROPOLOGIA RELIGIOSA - III

Seitas Africanas - Angola


Desde os primórdios dos tempos o continente africano é conhecido em seu aspecto religioso como núcleo de monarquias africanas. As entronizações e os seus aspetos religiosos constituem parte importante da dinâmica social africana. As responsabilidades régias quer em matéria legal, quer por matéria da vida imaterial, nomeadamente a fertilidade agrícola, são aspetos de elevada riqueza antropológica.
Em meio a tanta diversidade cultural, nos deparamos com algumas seitas religiosas, que surgem sobretudo nos bairros periféricos dessas localidades têm criado sérios constrangimentos no seio das populações, por não terem horários exatos para a realização dos seus cultos religiosos e por terem origem e identidade duvidosa. Segundo o diretor provincial da Cultura no Zaire, Biluka Nsakala Nsenga, através do Portal Angop,  existe uma grande preocupação com a proliferação de seitas religiosas em Angola:
“São denominações que surgem à margem da lei em vigor.  A direção provincial da Cultura em parceria com os serviços de fiscalização das administrações municipais está a trabalhar para se pôr cobro a este fenómeno que consideramos preocupante”, referiu.  Acrescentou que muitas dessas seitas religiosas, cujos pastores são provenientes da República Democrática do Congo (RDC), realizam cultos em lingala (língua falada nesse país) em detrimento das línguas portuguesa e nacionais faladas em Angola. Segundo o director, esta situação (pregação em lingala) tem sido constantemente debatido nos encontros entre a Cultura e as igrejas sediadas na região, com objectivo de valorizar primeiro as línguas que “nos identificam como angolanos”.
Para o director, a pregação em língua lingala contrasta com a identidade cultural dos angolanos, pelo que medidas serão tomadas nos próximos tempos para inverter o quadro. Fundamentou igualmente que muitas dessas seitas religiosas, com fins lucrativos, também realizam  cultos na calada da noite, o que perturba o silêncio aos moradores daquelas zonas.
“ Muitos cidadãos da RDCongo encontram na igreja uma forma mais rápida de se ver realizado na vida. Segundo relatos eles dizem frequentemente aos compatriotas   que a Bíblia em Angola está a render. Por isso, nós tudo estamos a fazer para travar este fenómeno”, Concluiu.
Estivemos este ano em Angola, e pudemos vrificar de perto este relato, junto a outros orgãos de interesse religioso e cultural. O crescimento dessas seitas da-se de modo desestrutural e equipara-se das massas menos instruídas. Percebemos que o Comunismo Tribal também é muito abrangente e prolifera-se entre algumas dessas seitas.
Devido ao nosso espaço citaremos algumas, das quais eu e minha parceira de campo tivemos algum contato mesmo de modo indireto. Algumas fotos não tiveram boa resolução, pois fomos impedidas na grande maioria das vezes de fotografarmos esses templos. Em alguns momentos quase fomos agredidas, mesmo dentro do veículo. Ainda assim procuramos informações plausíveis de serem divulgadas afim de transmitirmos o conceito cultural africano na América afim de valorizarmos a cultura de um modo em geral. A seguir, nos preocuparemos em detalhar nossas pesquisas com bases em estudos em artigos acadêmicos, pesquisa de campo e ensaios interessados no assunto. Temos como base de interesse as citações de Carlos Eduardo em seu site de divulgações de cultura Angolana:

"Em várias tribos, das mais diversas etnias angolanas, se verifica a existência de alianças intertribais em que se encontra o sistema de bens comunitários.
A riqueza comum é colocada à disposição da comunidade, e a administração desses bens é exercida em comum, ou por membros escolhidos por todos.
E o Coletivismo, prática altamente vantajosa para a maioria, em que clãs aparentados -- leão com onça, mabeco com cachorro, elefante com rinoceronte -- se aliam em cooperativas de sistema coletivista, visando o interesse comunitário.
No Sul, verifica-se muito este tipo de coletivismo entre as tribos Kilengues, Dombes, Kwanyamas, Kwamatuy; ao Norte entre Kikongos e Kimbundos; e a Leste entre os Ganguelas.
Mas no Kwanza Sul, na foz do Rio N'Gunza, existe uma tribo onde se pratica o comunismo puro, no sentido filosófico.
Todos trabalham em prol da comunidade, de acordo com as suas possibilidades, e a todos era distribuído o produto de acordo com as suas necessidades.
Era o Kimbo do Ximbutica, Soba sábio e tolerante que soube fazer do seu pedaço de terra -- o delta da foz do rio -- um éden de prosperidade e boa vontade, sem cobiças nem ganâncias."


Mapa rodoviário da "Estrada da Morte"
Luanda - Uíge
Uíge - Norte de Angola - Maior concentração bakongo
de Angola - Arquivo pessoal
















Aldeia Quibaxe - Arquivo pessoal
O Controle da maioria das aldeias afastadas do Grandes Centros está sob os cuidados religiosos e jurídicos do "Soba". Existem dois tipos de Sobas, o Soba Grande (regedor) e o Soba .
O Soba Grande, é o Soba que lidera os outros Sobas na comunidade. Este tipo de hierarquia é muito tradicional, por isso muitas vezes é difícil de definir claramente os papéis e as  responsabilidades de cada um, já que estão interligados pela cultura e contexto locais.

Em determinadas regiões de Angola há um conselho de Sobas que escolhe o Soba, noutras a sucessão é realizada por linhagem em que o sobrinho, filho de uma irmã, toma o lugar do seu tio por morte deste. (F.: Wikipédia)

A caminho do Uíge - Arquivo pessoal

Soba de Cabinda - Faleceu este ano
Aldeia |Caxito - Arquivo pessoal


Eu e crianças Bakongos do Papelão- Ug
















Para a ministra da Cultura, Rosa Cruz e Silva, o fenómeno de proliferação de seitas religiosas é um problema para sociedade e representa um autêntico desafio para os estudiosos bem com os órgãos decisores do país. De acordo com o vice-ministro da Cultura a proliferação descontrolada de seitas religiosas no país é também oriunda de correntes da América Latina e da Europa, além dos países limitrofes de Angola. Na sua maioria, segundo Cornélio Kaley, transmitem mensagens perturbadoras para sociedade.      

 ( F.: Voaportugues.com)

TOCOÍSMO

Simão Toco- Fundador da Seita

Simão Toco, que deu nome e origem à “Seita Tocoísta”, nasceu em Sadi Kibongo , em Makela do Zombo, em 24 de Fevereiro de 1918.
Em pequeno freqüentou a escola da Missão Batista de Kibokolo, com tal aproveitamento que em 1933 é enviado com bolsa da missão, para estudar em Luanda, no Liceu Salvador Correia.
Depois de completar o Primeiro Ciclo, voltou à missão para lecionar. Orador persuasivo e catalisador das atenções. Foi bem sucedido a ponto de, dali ser enviado para lecionar na Missão do Bembe.

Cinco anos depois, com encargos que não correspondiam ao salário, e sentindo-se injustiçado por não o valorizarem como sabia que merecia, emigrou para Leopoldville.
Na missão batista da cidade congolesa, e com os antecedentes que tinha, arranjou emprego, passando também a reger um coro de jovens angolanos.
Sede Igreja Tocoísta em Luanda
Arquivo pessoal

A partir de 1940, deixa-se influenciar pelo movimento do Watch Tower – Torre de Vigilância – seita conhecida no Congo pela denominação de Kitawala, cujp poder de agregação muito o impressionou.
Simultaneamente Toco entra em contato com membros do Kimbangismo, e o que mais o seduz é o fato de um negro ter tido a capacidade de fundar uma religião só para negros.
Em 25 de Julho de 1949, Simão Toco assiste a um ritual em que acontece um fenômeno de catarse coletiva, o que definitivamente o motiva a fundar a sua própria religião. Desliga-se das missões batistas e começa a reunir-se com adeptos iniciais em sua própria casa.
Tocoísta em Viana - Luanda
Arquivo Pessoal

Em 22 de Novembro, ele e uma centena de seguidores, são presos pelas autoridades coloniais portuguesas, que lhe fixam residência no Bembe; mas o ditador Português Salazar, não se contentava em impedir o povo de pensar e escolher os seus destinos políticos. Com fortes ligações com o clero, na figura do Cardeal Cerejeira, roubava-lhe também a liberdade de optar por qualquer outra religião que não fosse a católica.
Religiões eram fortemente reprimidas, e o Tocoísmo, com conotações políticas e raciais, mais do que todas as outras. 
Mulheres Tocoístas - Arquivo Pessoal

Por espalhar a sua doutrina, Simão Toco foi assim sendo transferido para Luanda, Kasonda, Kalukembe, Kassinga, e por todos os lugares ia deixando a sua semente da doutrina Tocoísta.
Os Tocoístas, vestidos de um branco imaculado, seguiam praticamente à risca os preceitos políticos e unirraciais do Kimbangismo, o que os levou a entrar em choque com os Universalistas do Watch Tower.


Politicamente pregavam a necessidade de expulsão de todos os brancos e de uma independência negra.

Concentração fiéis Tocoístas


Fontes de Referencia: Enciclopédia de Cultura Africana, Museu de Antropologia doe Luanda, Museu Histórico Natural de Luanda, Wikipédia e autores diversos já citados ao longo do texto.




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