Pandemia: Possíveis Sequelas em Crianças e Adolescentes em Virtude do Confinamento
Especialista em Saúde Mental revelam estatísticas preocupantes que apontam possíveis sequelas durante a pandemia.
Estáticas revelam
dados preocupantes que apontam possíveis transtornos mentais massivos durante e
pós-pandemia. Quase 200 milhões de crianças do mundo todo foram impedidas de continuar
suas rotinas desde março de 2020.
A grande maioria foi
impedida de estudar, brincar, visitar parentes e correrem ao ar livre. Sem
contar as perdas e lutos impossibilitados de despedidas. Situações estas, tão
comum nos últimos meses, não eram esperadas por ninguém.
Um alarme ecoa
silenciosamente no Globo: enquanto observávamos o aumento dos contágios e
mortes pelo COVID-19, os problemas mentais também cresciam. Um evento
traumático de tamanha escala, tal qual uma pandemia, provoca trauma agudo,
situação esta, que pode atingir crianças e adolescentes.
Os exemplos de situações
traumáticas de grande escala, observadas na clínica psicológica ao longo da
história, atestam veracidade desses dados. Transtorno de Ansiedade Generalizada
(TAG), Transtorno de Estresse pós-Traumático (TEPT), Episódio Depressivo Maior
(EDM), entre outros transtornos podem se instalar silenciosamente.
Segundo a pesquisadora
Espanhola Abgail Hertz, da Universidade de Madri: “as crianças estão sujeitas a um perigo invisível que provoca mortes em
uma situação de extrema gravidade, inesperada, chocante, que dispara reações
toxicas ao organismo. ”
Essas ameaças somadas a
outros fatores estressantes do cotidiano, tal como a perda da rotina escolar,
impedimento de relação social direta, afastamento das amizades mais estreitas,
dentre outros, são contingências agravantes de um possível quadro de
adoecimento psíquico.
Sem contar os muitos
medos que se instalam frente às ameaças de morte e/ou perdas e privações matérias
resultante de situação de desemprego dos pais, etc. A criança espelha os pais
ou responsáveis. São afetadas diretamente pelos seus problemas.
Fala-se atualmente de uma
“quarta onda” sanitária que corresponde
a uma segunda epidemia, desta vez de transtornos de saúde mental.
Se a primeira onda foi o
tornado de pessoas infectadas pelo Coronavírus, a segunda e terceira, sequelas
nos pacientes crônicos que não obtiveram cuidados necessários ao longo da
pandemia.
A quarta onda, tal qual
um tsunami, chama atenção dos especialistas de plantão!
A China realizou
recentemente um estudo sobre o impacto do Coronavirus. Este estudo abrangeu 194
províncias e cerca de 1200 pessoas foram entrevistadas, incluindo 344 jovens
entre 12 a 21 anos.
Os resultados revelaram que
cerca de 16,5% desses entrevistados relatam sintomas depressivos moderado a
graves, e 28,8%, sentimentos de ansiedade moderada a grave. Os dados relataram
ainda que 75,2% dos pesquisados apresentavam grandes fobias em relação a uma possível
reinfestação da doença.
Além do mais, a disseminação massiva de informações sobre o COVID-19 através de mídias, redes sociais, etc. aumentam significamente a prevalência da ansiedade e depressão, e a combinação entre ambas. A recomendação é limitar a exposição das crianças às notícias.
O Confinamento e a Depressão Infanto-Juvenil
Não é apenas o medo de um
vírus invisível que agrava os problemas de saúde mental. O distanciamento
social é um fator de alto risco para as psicopatologias. Estudos preliminares
apontam a relação entre longas quarentenas e maiores angústias psicológicas.
Sintomas tais como:
terrores noturnos, pesadelos constantes, medos, irritabilidade, impaciência,
hipersensibilidade emocional, apatia, nervosismo, défice concentração e atraso
cognitivo, são sintomas associados à depressão e aumentam com o confinamento.
Desta forma, o aumento de
sintomas depressivos é comum nesses casos, pois os hábitos, mudam bastante e
rápido.
Uma pesquisa realizada
recentemente em Portugal comandado pela Dr. Orgilés (Universidade de Leon),
revelou que nove, a cada dez pais, observam que os hábitos das crianças mudaram
ao longo da pandemia.
Cerca de 23% dessas crianças passaram a comer mais, 73% usam dispositivo eletrônico por mais de 90 minutos diários, em comparação dos 15% que faziam antes da pandemia. Destes, apenas 14% praticavam alguma atividade física diária.
Ansiedade e Trauma Infanto-Juvenil
Na Europa pré-Covid, o serviço de saúde mental da população infanto-juvenil correspondia a cerca de 30%. Atualmente este número mais que dobrou. Jovens com psicopatologias anteriores tem apresentado comorbidades agravantes que preocupam os especialistas.
No Brasil, onde o acesso
preventivo à saúde mental ainda é altamente elitizado e seletivo, os índices não
poderiam ser menores. São necessárias
mediadas eficazes e políticas públicas para acesso de todos à saúde mental,
nesta demanda que se alastra mais rápido que o vírus: a ansiedade e o estresses
pós-traumático.
Como Diferenciar Ansiedade de Trauma
A ansiedade é a
antecipação do medo ou intensidade do desejo de forma a contextualiza
pensamentos obsessivos e preocupações a larga escala, ocasionando grande
angústia multiplicada as questões próprias do sujeito a qual se instala.
Em grande proporção, leva
ao impedimento de atividades cotidianas e sensação de prazer afetando
diretamente a qualidade de vida e aumento da probabilidade para outras doenças
psicossomáticas.
O estresse pós-traumático,
é um transtorno que está diretamente ligado a um trauma vivido no passado da
criança, ou mesmo trauma indireto. Distingue-se porque, ao contrário da
ansiedade que é imediata, aparece mais tarde, depois de alguns meses.
Além da tristeza e
ansiedade desproporcionais, ocorrem visões repetitivas dos eventos traumáticos
que remontam às lembranças dos episódios aversivos que invadem e paralisam a
vida.
Outros sintomas são
lembranças invasivas, insônia, irritabilidade constante, bloqueio emocional,
comportamentos de esquiva. Para tratar esses e outros sintomas, o auxílio e acompanhamento
de um profissional de saúde mental será fundamental.
Atualmente, psicoterapeutas
tem dedicado a recomendação de estratégias e ferramentas para que pais possam
ajudar crianças e adolescentes em vulnerabilidade prévia. O cuidado médico
também é essencial na atenção primária.
O medo, a tristeza e a
raiva são emoções normais, mas se o grau de intensidade e prolongamento
aumentam, é preciso atenção rápida para a avaliação dos sintomas.
Em relação aos adolescentes
que apresentam quadro depressivo e maior desejo de morrer, podem lhe perguntar
sobre o que precisam ou se existe algo que possa ser feito para aliviar a
angústia, sem obriga-los a falar, ou ainda, ignorá-los.
O incentivo à pratica de
esportes, convívio social, desenvolvimento da criatividade, são ferramentas
úteis e precisas no combate às angustias e depressão. Mas não se esqueça: essas
são apenas dicas simples para alívio parcial e momentâneo. Na dúvida procure
consultar sempre um profissional capacitado.
Afinal a vida é um
caminho a ser percorrido pelas vias do amor e da coragem!
Com vocês sempre!
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