À espera da felicidade
Quando falamos sobre a felicidade, a ideia parece acender a chama de uma ânsia pelo absoluto, pelo infinito. Contudo, quando nos deparamos ante a realidade que nos assiste na finitude da vida, nos assolamos com tantas decepções.
Como então, ser feliz em meio a tanto sofrimento, injustiças e imperfeições?
Em Macbeth, Cena V do Ato V, a personagem de Shakespeare diz:
“A vida é uma história, contada por um idiota, cheia de som e fúria, sem sentido algum".
A o depararmo-nos com essa reflexão, talvez um tanto melancólica, surge-nos uma abertura para questionarmos o sentido da vida. Muitos não suportam a ideia de
que nem tudo é perfeito. Presos em seus complexos narcísicos, estabelecem parâmetros, ainda que imaginário no constructo de um ideal obscuro e egoísta.
Em suas próprias dimensões, selfies e fantasias, ocupam o lugar da razão e da alteridade, aumentando ainda mais a fronteira da indiferença e egoísmo.
A vida, como uma espécie de trama errática teada pelo Telos do destino, é marcada pela inconsistência.
Nossa história é construída a partir de tradições sem nexos e significados, marcadas pelo abismo entre falta e desejo, que num eterno paradoxo,
nos descontenta e cega.
O que vemos e aceitamos se torna nossa verdade. Mas isso não anula o oculto e o que é por si! A verdade é que não nos comunicamos em absoluto com ninguém.
A vida é inútil enquanto nos posicionamos como sujeitos incontidos numa velocidade insaciável, em busca de um prazer que nem mesmo suportamos no todo.
Nos momentos da dimensão trágica da vida, falta-nos resiliência, similar ao ato épico da coragem transformadora e geradora de possibilidades. Na finitude
entre a vida e a morte, falta a muitos encontrar os significados deste aqui-agora.
Quando pensamos na felicidade, nossa prospecção é vindoura. Um devir. Um aí-ser, um Dasein. Logo, sentimentos de felicidade se misturam ante as linhas
do tear do existir.
Como partes de uma grande colcha de retalhos, felicidade se parte em momentos, momentos em sentimentos que se revelam na integralidade do ser. Seja estas partes em sua completude,
os âmbitos materiais e subjetivos.
Desta forma, alcançar essas medidas orgânicas e materiais, ainda que em forma de centelhas da vida própria, o ser precisará ser livre das relações
superficiais que não o leva a nada.
Talvez neste nada, nos deparemos com o verdadeiro sentido do ser: Compreender que uma vida útil significa uma vida que faça sentido à si e ao viver.
Chris Viana
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Imagem: The Associated Press. Por: Rajanish Kakade
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