À procura de Crianças bruxas – Parte III Capollo

Crianças bruxas podem ser encontradas para além da ficção na África moderna. No Capolo em Luanda, entre as crianças de etnia bakongo, é possível conferir essas e outras histórias que perpetuam gerações.

Pôr-do-sol savana Africana
By Chris Viana

Estávamos no Capollo II. Núcleo de refugiados do Congo RD. Maior concentração de refugiados oriundo deste país, concentrados na cidade de Luanda. Crianças bruxas são excluídas dessa comunidade. 
Coral Capolo - IEBA

Ao chegar no local, cerca de 300 crianças correram ao meu encontro. Eu era a única loira que acompanhava o grupo. Algumas crianças quase que me derrubaram no chão. As que eu compreendia o idioma, diziam: [..] “é a boneca branquinha cheirosa” […]. Isso me emocionou e assustou! Mas era apenas o começo.
Emoção de estar junto aos Bakongos
Estávamos a entender o porque de nossa missão em África. Afinal fora tudo tão rápido. Deixe-me fazê-los compreender como tudo começou, antes de voltarmos a nossas crianças.

Conheci a minha amiga de dupla nacionalidade, a qual chamarei de Zandra neste espaço, em 2002, enquanto estava em missão no Caparaó – Brasil. Certo dia, em meio a muitas lutas e decepções, vi meu marido simplesmente abandonar-me com dois filhos pequenos.

Após uma diverticulite, três pneumonias, duas tentativas de assassinato, aturar o desprezo familiar pela escolha de ser missionária, e ainda, enfrentar a falta de alimentação adequada para meus filhos, pensei em retornar ao Rio de Janeiro.

Ao receber a missão Caparaó, eu abri mão, quase que obrigada pelos céus, de uma loja de roupas, um cargo de analista no TRE do Rio, e encarei o desafio. As dificuldades foram enormes, contudo pude contar com o apoio de amigos leais. As provas foram essenciais para aperfeiçoar meu caráter!

Nesta miscelânea de provações e dificuldades, fui convidada a participar de um congresso na Igreja Batista de uma cidadezinha no sul do Espírito Santo. Lá estava Zandra, ministrando com autoridade e sapiência sem precedentes.

Com o passar dos meses eu adoeci ainda mais. Sem apoio local neste instante (é incrível como as pessoas somem na hora da doença e dificuldades!). Recebi uma notícia que havia um pacote para mim no hospital da cidade. Um pacote? No hospital? Será que o marido fujão capotou? Que susto!

Em meio a tantos temores, fui até a enfermaria e procurei a Deby. Lá ela me entregou o pacote, que por sinal era bem pequeno em relação ao fujão. Havia um perfume e uma carta dizendo: “Não se preocupe com o que está acontecendo. Você está sendo preparada para algo muito além do que compreende. Você é o bom perfume de Cristo. Ele te ama muito! Não sei o porque deste perfume, mas foi Ele quem o mandou!”




Como chorei!!!! Seria esse o cheiroso das meninas bakongo? Mas isso só se deu 10 anos depois!!!!

Zandra me visitou outras vezes, me acolheu e me adotou. Inúmeras vezes nos auxiliou com alimentos e cuidados afins. Nos tornamos boas amigas e confidentes.

Três anos mais tarde, já de volta ao Rio de Janeiro, estava em um Congresso de Teologia  com o Ministério Ágape Reconciliação, junto a um grupo de intercessores, conheci Leio Sung, africano, aquele que um dia Zadra mencionara como seu prometido.

Foi uma “coincidência” incrível. Em 2006 fui madrinha do lindo casamento dessas duas pessoas incríveis. Após a lua de mel, ambos, casados, foram residir em Angola. Assumiram o chamado e o Retorno de “Benção” junto aos seus conterrâneos do pós-guerra.

Em 2013, mas precisamente em fevereiro deste ano, D’us me disse: renova seu passaporte em tempo hábil, pois atravessará o Atlântico. Tenho um desafio para to além fronteiras.

Como se não me bastasse a surpresa do Eterno, meu passaporte estava a vencer em maio, e não poderia embarcar com menos de seis meses de validado. Corri a Polícia Federal mais próxima, neste período eu já havia assumido a Primeiro Amor de Linhares – ES, e pra piorar a situação: Greve geral da PF sem previsão de retorno.

Tentei renovar meu passaporte no Rio, São Paulo, mas a greve era de caráter nacional. Ainda tinha a questão do dinheiro. Precisava de R$ 8.000,00 para as passagens. Meus chegados insinuavam que eu tinha surtado. Mas eu conhecia a voz de D’us, e sabia que estava no comando.

Em meio a tanto embaraço, fui à São Mateus, cidade próxima a que eu residia na época, e conversei com a Delegada da Polícia Federal. Disse exatamente o que lhes contei. Para grandeza do Nome Eterno, meu passaporte foi emitido, revalidado em condição especial e de caráter emergencial.

Fizemos bazar, vendemos quitutes e levantamos doações. A passagem estava comprada. Agora faltava o visto. Cônsul de Férias!!!! Mas insisti, fiz plantão em frente ao consulado, e com a carta convite do Tenente Coronel da Aeronáutica de Angola, eu consegui meu visto.

Segui a direção e parti para África. Foram quase oito horas de viagem aérea sobre o atlântico. Uma imensidão de azul do mar e do céu se fundiam em meio aos meus pensamentos… O que me esperava do outro lado do continente?

Foi assim que cheguei em Angola. Recebida pelo casal Benção. Cheia de perguntas e desafios. Mas não sabia eu que um imenso amor por este povo estava prestes a iniciar. Eu havia ido para doutriná-los, mas eles me ensinaram a verdadeira doutrina: o amor incondicional, a verdadeira adoração e a liberdade!

A África foi um divisor de águas na minha vida no que se diz a prática religiosa, tabus e espiritualidade. Nunca mais fui a mesma. Ao retornar ao Brasil quase dois meses depois, tudo mudou radicalmente, e hoje me preparo para a nova fase.

Voltando ao Capolo II, muitas coisas aconteceram naquele lugar. Quantas maravilhas!!!  Mas o que me marcou profundamente, foi perceber que meu ceticismo estava caindo por terra, quando uma serpente caminhava no tecido epitelial de uma criança bruxa, e uma mulher com quase 40 anos enfeitiçada, foi liberta! A partir do poder da oração, subestimado por muitos, o feitiço saiu pelo dedo indicador de uma de suas mãos.
Bandeira RDA - Vista do Museu do Exército
By Chris Viana

Se eu não tivesse vivido este contexto, talvez não acreditaria nesta história.

A partir disto, algumas pessoas começaram a me procurar e foi então que tive minha primeira entrevista com uma criança bruxa, que havia fugido do pai, por meio de um palito de fósforo, e voado do Congo à Angola.

Chamarei esta pequena criança de Sara. Ela mexerá comigo de uma forma sem precedentes. No próximo capítulo vocês entenderão o porque!

As crianças bruxas não são mitos. Mas precisamos entender a metáfora!!

Fiquem comigo!

Com vocês, sempre!

Chris Viana
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