Saga História da Sexualidade - Revivendo o contexto e o Devir

Este é um artigo de informação. Necessário hoje mais do que nunca quando nos espelhamos na realidade demográfica e cultural brasileira. Em pleno século XXI, muito preconceito, ideias distorcidas, crendices e tabus, ainda são estigmas quando o assunto se direciona à sexualidade. 


De um lado os apologistas de uma liberalidade desenfreada, por outro, um fundamentalismo surreal. Nessa via dupla, muita informação é dada, absorvida, e o modal prevalece. Mas parece não minimizar os impactos do medo, falta de informação e preconceito.

O que você vê na imagem acima?
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Vamos iniciar uma saga pela história da sexualidade. Desde sua elaboração social mais remota, até os dias atuais. Nosso espaço é plural, logo, não evocaremos somente este assunto. A sexualidade poderá vir mesclada a outras temáticas. Não pretendemos ainda esgotar o tema e sim,  abrir um espaço para orientação e discussão sobre um assunto tão polêmico, mas preciso. 

As mudanças sociais enfrentadas pela humanidade nos últimos 50 anos, repercutiu de forma direta na cultura sexológica, por isso, esperamos que nosso sucinto espaço, colabore para essa orientação e direcionamento saudáveis, compreendendo o ser como multidimensional: bio-psico-social. 


VIDA SEXUAL NA ANTIGUIDADE


Espaços dos Bácãs na Antiguidade Remota

É de saber geral que as regiões compreendidas entre o leste do Mediterrâneo e a Índia, foram habitados por povos civilizados antes mesmo que os gregos. Esses povos eram os babilônios, sumerianos, persa, egípcios e cretenses. Eles foram reconhecidos pelas suas pompas e magnificências, revelados nos eventos cinematográficos.

Essas civilizações diferiram muito da nosso em matéria de vida e costumes sexuais. Os achados arqueológicos ao longo da história e recentes, revelam essas formas de agir dos povos antigos.  

Nessas regiões a mulher era considerada uma espécie de "patrimônio móvel", isto é, pertencia ao homem a quem deveria servir até a sua morte. Por essa razão, o adultério feminino era considerado tão grave, cabendo a este a pena de morte.

A mulher enquanto "propriedade do homem", era submissa em todos os aspectos: tanto para o bem, como para o mal. 

Devido a este contexto, algumas analogias entre as culturas sexuais de todos aqueles povos, em destaque os sumerianos, perpetuou por muitos séculos. Foram os sumerianos que inventaram o Mito da Criação, do Dilúvio e depois, uma introdução, ao que, posteriormente será declarada Escrituras Sagradas.

Quero destacar dentre estes povos alguns fatos sexuais mais significativos. Os casamentos eram combinados, tal qual muitos países orientais ainda sustentam o costume. Mas havia muita liberdade nas relações dos mais jovens. Um rapaz que seduzisse uma moça, deveria desposá-la em casamento. a noiva poderia então, viver na casa de seus sogros, mesmo antes do casamento.

Além disso, era costume a esposa escolher as concubinas de seu marido. A melhor de suas escravas. A história Bíblica de Agar e Sara, descrevem bem esse costume. 

A sensualidade era bem expressiva na arte arcaica. Estatuetas esculpidas revelavam mulheres de seios proeminentes e corpos delgados. As estatuetas nuas eram preenchidas com perucas, tatuagens nos braços e ombros. Essas estatuetas demonstram o interesse masculino pela sensualidade desde os tempos mais antigos.

Inana - Deusa da Fertilidade Sumeriana

Fato curioso é que em Babilônia e Assíria, havia dois dialetos distintos. Um deles era feminino, e usado para elaboração de cânticos religiosos, e era mais suave e musical em relação ao dialeto masculino. Nesse idioma feminino foi composto o hino de invocação à deusa Vênus babilônica, tão famoso na antiguidade. 

Em Babilônia, havia um grande mercado de mulheres descrito com exaustão pelos historiadores. Quando as moças já estavam na idade para se casarem, eram levadas pelos pais a esses mercados, onde eram negociadas. Mas ao adquiri-las,  a lei obrigava a casar.

As cortesãs faziam parte do contexto social daquelas sociedades. Contudo, eram delimitadas ás suas residencias e aguardavam clientes sentadas às portas, com faixas próprias adornada à cintura. Eram essenciais para ritos semi-religiosos. Entre os seios guardavam uma espécie de talismã, uma pedra a qual atribuíam um poder mágico contra a contracepção.

Na Assíria, a crueldade metódica era uma prática nacional. Os crimes eram castigados com mutilações sexuais. O marido que surpreendesse sua mulher em adultério, tinha direito de matá-la e ao concubino. A violação de uma mulher casada (não da solteira) implicava em pena capital.

O véu era obrigatório o uso em ambientes públicos pelas mulheres casadas. Uma prostituta, jamais poderia usá-lo sem punição severa. 

Entre os hititas, povos mais antigos da região do Oriente Próximo, o casamento ocorria após um sequestro ou compra de uma mulher. O adultério era punido com morte. O divórcio era possível. Relações sexuais com a mãe, filho ou filha, eram proibidos, assim como as com a cunhada. Mas pai e filho podiam ter relações com a mesma prostituta ou escrava. O aborto praticado era penalizado com uma multa muito pesada.

Já os Persas, foram maiores e mais organizados que os Hititas. Ainda assim a mulher tinha condição social inferior. As mulheres capturadas eram transformadas em concubinas e presas no harém. As filhas que se casassem sem a benção paterna era desprezada para sempre. O ciúme era um hábito comum entre eles. A poligamia era permitida, desde que distintas as esposas das concubinas. O casamento ocorria em idade tenra e o incesto era legal na região, apesar de proibido na Mesopotâmia.

Zaratustra, famoso teólogo e filósofo persa, recomendava o casamento como essencial para a vida adulta. Afirmava que o melhor modelo de casamento era o parental - daí o costume generalizado de casamento entre irmãos e irmãs, mãe e filhos, pais e filhas, naquele país. Mas tarde, colonizado pelos cristão, o hábito foi condenado. 

Os persas passavam parte da vida dedicados ao sexo. A religião não considerava o prazer sexual como força do mal, como a filosofia judaico-cristã posteriormente haveria de julgar.


GÊNERO NA ANTIGUIDADE PERSA

A Dra. Megan Cifarelli, professora do Manhattanville College (Estados Unidos), analisou sepulturas de Hasanlu, no noroeste do Irã, divulgado pela Revista Galileu em 2019, à partir de suas pesquisas, ela concluiu que a ideia de que certas coisas são apenas para mulheres e outras só para homens não é uma realidade para todas as sociedades. Principalmente num estudo paralelo das civilizações arcaicas.

Um estudo de sepulturas de uma civilização persa de 3 mil anos sugeriu que as pessoas enterradas no local não se apegavam ao binarismo de gênero, mostrando que esse conceito é culturalmente específico e entra em conflito com muitas das antigas civilizações.

Cifarelli analisou seus relatórios e encontrou pessoas enterradas com itens que provavelmente eram considerados masculinos e femininos (sem ambiguidade de gênero). Entretanto, cerca de 20% dos túmulos continham uma mistura de objetos, o que mostra que ou o povo de Hasanlu acreditava em um terceiro gênero, ou que, não via o gênero  numa dicotomia rígida.


Para Cifarelli, os estudos arqueológicos foram influenciados pela visão do sexo e gênero, a partir da leitura ocidental, já que ossos incompletos têm sido tradicionalmente identificados como masculinos ou femininos com base no fato de o túmulo incluir uma arma ou algum item considerado doméstico, ou seja, comum aos dois biótipos persas antigos.

Nossa autora insiste: “ O modelo biomédico, trouxe a modernidade um saber sexual dual. No entanto, para uma grande porcentagem da população, não podemos dizer isso, pois seria uma desconstrução, senão, ofensa! ” (Fonte IFLScience).


Isso significa que algumas dessas pessoas poderiam ser reconhecidas como o que nós chamaríamos de intersexuais. Contudo, os arqueólogos assumiram que eram homens ou mulheres, e para manter o padrão social vigente, tentaram caracterizá-las assim, assumindo que sua cultura via definições sexuais como o mundo ocidental.

Mas apesar das descobertas recentes, a realidade da sexualidade no Irã moderno, antiga Pérsia, não é tão aberta assim. Para os medos e persas da antiguidade, tanto a poligamia quanto a união estável eram permitidas, conforme dispõe o livro Avesta, livro sagrado escrito por Zoroastro. O casamento, para o persa, é sagrado, não havendo divórcio.

Não se tolera o concubinato adulterino, não sendo considerado tal na hipótese de o homem ter várias mulheres. Aqui também se aplicava a pena de morte caso o homem se deitasse com uma mulher já casada ou se deitasse com outro homem. Hoje, no Irã, antiga Pérsia, a vista da sexualidade, do sexo e as condições de gênero são Tabus.


SEXUALIDADE GREGA


Sexualidade Grega
 Fonte: lh3.googleusercontent.com

Para SPITZNER (2005)os gregos compreendiam nobreza de espírito, simetria e beleza como fatores Para esse povo, essa tricotomia revelavam os aspectos que deveriam estar integralmente relacionados. Um não poderia viver sem o outro. Um corpo atraente e simétrico deveria conter um espírito magno. Os gregos criaram um mundo aventureiro e amoral. Concebiam o sexo entre os deuses fogosos e também entre um homem e um deus.

A pederastia para os gregos, traduzia-se na atração sexual de um adulto por um menino que já passara pela puberdade, mas ainda não atingira a maturidade. Nesse contexto, o adulto tornava-se responsável pelo desenvolvimento moral e intelectual do menino tratando-o com delicadeza e afeição. 

Mas após tornar-se adulto, deveria se casar e constituir família, ou servir ao exercito. Maiores de idade não podiam ser "submetidos" à  pederastia sem punição. Os maiores poderiam submeter os menores, nunca vice-versa. 

Entre os gregos, a pederastia tornou-se um ramo da educação superior e não era condenada, por não ser considerada um desviante sexual. Os jovens eram alugados por hora ou em uma base contratual e havia uma vasta legislação sobre o relacionamento homem-rapaz.

Na Grécia antiga, as mulheres eram tratadas com desdém e não possuíam direitos políticos nem legais. A educação não era direcionada a elas. Eram postas a parte e obrigadas a passar a maior parte do tempo encerradas no gineceu – aposento da casa – destinado somente a elas.

Para os gregos, existia um certo padrão de honra para a escolha de uma esposa. Ela deveria ser casta, sensata, saber fiar, tecer, costurar, ser capaz de administrar a casa com sabedoria e as tarefas adequadas aos empregados, gerar filhos, ser econômica com o dinheiro e bens do marido

A maioria das as esposas negligenciadas sequer se queixavam, pois a despeito das dificuldades, encontravam satisfação sexual através da masturbação e da homossexualidade. 

A prática da masturbação se tornou era uma espécie de  válvula de segurança e, como utilizavam com freqüência “olesbos” ou “dildos” (pênis artificial), encontravam a partir desses instrumentos "fálicos" a satisfação solitária tanto a elas como às tríbades (homossexuais). 

Em Lesbos, uma ilha grega, existia uma diretora de uma academia para mulheres. Safo era notável poetisa e foi reconhceida como a mais famosa homossexual daquela época, seu nome e o da ilha onde viveu, deram origem ao “amor lesbiano”, ou lésbico, em substituição ao tribadismo, como era primitivamente denominada a relação entre elas..

O  filósofo Foucault (1968), remonta à antiguidade arcaica e clássica para interrogar os cuidados que os gregos dispensavam pela vida sexual. Mas com um novo olhar. Em sua obra "História da Sexualidade", o filósofo revolucionário procurou revelar o cenário a qual a sexualidade se desenvolveu:


"Gostaria de mostrar, agora, de que maneira, na Antiguidade, a atividade e os prazeres sexuais foram problematizados através de práticas de si, pondo em jogo os critérios de uma "estética da existência"

(FOUCAULT, 1984, p.15)

Para Foucault, estudar a sexualidade de um período é investigar suas manifestações e consequentes mudanças na cultura e sociedade, apurando todos os agentes catalizadores das transformações tanto no campo da moral como no do corpóreo e da libido. 

Ao teorizar sobre a sexualidade, Foucault enfatiza o objetivo Antigo de “conhecimento de si”, estudo das práticas genitoras dos conceitos mediadores das relações sistematizadas no meio individual e social do homem. 

Para ele, houve uma construção de uma história da sexualidade imutável, e isso precisa ser desconstruído, pois, na compreensão da dimensão de seus estatutos, onde a mesma se apresenta a partir dos repertórios cultural e biológico.

Sem contar a subjetividade paralela subjacente, que permite um certo dialogar frente as aberturas que se fazem nas diferentes áreas de trocas e vivências. Logo, mesmo nas relações afetivas, nas suas multifacetadas, prevalecem as relações de poder.

SENNETH (1994, P.40) diz: "Tais entendimentos são necessários para a análise da sexualidade grega, enquanto hábitos sexuais, quando apresentado o seguinte cenário: o homem e a mulher como constituintes de um só ser localizados em extremos opostos, onde os diversos graus de feminilidade e masculinidade determinam as relações dentro da sociedade". 

Assim, quando não acalentados plenamente, um processo de inversão poderia ser estabelecido em relação ao sujeito do sexo feminino e vice-versa. Isso explica também as hierarquias construídas no modelo grego, ou seja, onde o homem “afeminado” era reflexo de um feto masculino aquecido insatisfatoriamente, assim como a mulher “masculinizada” seria proveniente de um acaloramento inadequado.

                                                                        [...] 

A gente fica por aqui nesta parte introdutória de nossa Saga História da Sexualidade.

Espero que tenham gostado e continuem comigo!

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