"Quando a mãe não ama, o filho pensa que é culpa sua. Mas talvez a falha nunca tenha estado nele, e sim no altar onde colocamos essa mulher."

Gerado por AI 

Por Christianne Sturzeneker

I. INTRODUÇÃO 

A ideia de que a maternidade é um amor puro, incondicional, instintivo, tem sido martelada por décadas. Mas nem toda mãe ama. E algumas usam a maternidade como um palco para perversões silenciosas e destrutivas. Este encontro é um convite para desconstruir esse mito, olhando para a psicanálise, a psicologia e a antropologia, e tendo como eixo o documentário "Tell Me Who I Am".


II. A PERVERSÃO NA PSICANÁLISE: QUANDO A MÃE USA O FILHO COMO OBJETO DE GOZO

  • Freud: em "Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade" (1905), a perversão é uma recusa simbólica da castração. A mãe perversa quer manter o filho como extensão de si.

  • Em "O Mal-estar na Civilização" (1930), Freud observa que o amor feminino pode ser tirânico.

  • Lacan: A "mãe fálica" não cede o filho à Lei (função paterna). O filho é o objeto de seu gozo. "A pior coisa que pode acontecer a uma criança é ser o falo da mãe."

  • Melanie Klein: A mãe é ambígua desde o início: fonte de nutrição e de destruição. "Inveja e Gratidão".


III. "TELL ME WHO I AM" – A MÃE COMO ALGOZ SILENCIOSA

Crédito: Netflix

  • Dois irmãos gêmos. Um perde a memória num acidente. O outro recria um passado inventado para protegê-lo da verdade: ambos foram abusados sexualmente pela própria mãe.

  • O horror está justamente na negação social da possibilidade de uma mãe ser algoz.

  • Amor e abuso convivem na mesma figura. A culpa e o silenciamento se tornam prisões psíquicas.

  • Conceito de ligação traumática.


IV. OUTROS CASOS EMBLEMÁTICOS

  1. Sylvia Likens (1965) – torturada e morta por Gertrude Baniszewski com ajuda dos filhos.

  2. Marybeth Tinning – matou nove filhos; caso clássico de Munchausen por procuração.

  3. Filme "Precious" – mãe incestuosa, violenta, destrutiva.

Esses exemplos mostram que a mãe abusiva existe, embora raramente seja reconhecida ou denunciada.


V. A MATERNIDADE NA ANTROPOLOGIA E NA CULTURA

  • Elisabeth Badinter em "Um Amor Conquistado": o amor materno é construído socialmente, não é instintivo.

  • No cristianismo ocidental: culto mariano reforça ideal de mãe imaculada.

  • Claude Lévi-Strauss: os papéis maternos são rituais simbólicos, que não excluem perversões.


VI. CONCLUSÃO: DIZER O INDIZÍVEL

 É preciso nomear o abuso — especialmente quando ele se disfarça de amor e vem justamente de quem nos deu a vida. Há uma violência que não deixa marcas visíveis, mas imprime feridas profundas na alma infantil: é a violência do silêncio, da manipulação emocional, da negação da verdade.

 Quando a figura materna, socialmente idealizada como símbolo de afeto incondicional, se revela como algoz silenciosa, o trauma se duplica — porque o agressor não é um estranho, mas o rosto mais familiar.

 Romper com o mito da mãe sagrada não é um ataque à maternidade, mas um ato de justiça. É recusar a blindagem cultural que impede o reconhecimento do sofrimento real de tantas crianças. É abrir espaço para um cuidado honesto, comprometido com a verdade — não o cuidado que acoberta, mas o que revela; não o que romantiza, mas o que protege.

 Enquanto insistirmos em idealizar a maternidade como pura e automaticamente benévola, continuaremos cegos ao sofrimento de muitas infâncias. É só ao olhar para além do véu do romantismo — que cega, silencia e aprisiona — que conseguiremos nomear o mal onde ele realmente está. E só assim poderemos proteger aqueles que ainda não sabem nomear o próprio medo, nem pedir socorro.


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REFERÊNCIAS

  • Freud, S. Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (1905)

  • Freud, S. O Mal-estar na Civilização (1930)

  • Klein, M. Inveja e Gratidão

  • Lacan, J. O Seminário, Livro 4: A Relação de Objeto

  • Badinter, E. Um Amor Conquistado: o mito do amor materno

  • Dejours, C. A Loucura Privada

  • Documentário Tell Me Who I Am (Netflix)

  • Casos históricos (Sylvia Likens, Marybeth Tinning)


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Comentários

  1. Que forma inteligente de tratar um assunto que numca e descutido entre familias. Parabens pela menssagem.. DS

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    1. Por ser um assunto delicado, muitas vezes fica nos bastidores das familias, reforçando uma alienação traumática geracional. Expor a perversidade é imputar responsabilidade ao perverso, que, ante a seus atos, se reforça com o silêncio e com a impunidade. Quebrar Tabus é preciso! Obrigada DS por comentar.

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