Antropologia Cultural - Etnia Bakongo

POVOS AFRICANOS - OS BAKONGOS

Pronúncia: Buh-KAHN-go
Nomes alternativos: Kongo
LOCALIZAÇÃO: Região do rio Congo (Angola, República Democrática do Congo; República do Congo)
POPULAÇÃO: 3,3 milhões (2013)
IDIOMA: Kikongo
1 • INTRODUÇÃO 

A solidariedade do povo Bakongo tem uma longa história baseada no esplendor do antigo reino do Kongo e a unidade cultural da língua Kikongo. Fundada no século XV, o reino foi descoberta pelo explorador Português Diego Cao quando ele desembarcou na foz do rio Congo em 1484. Como o comércio desenvolvido com o Português, Mbanza Bata, localizada ao sul do Congo, se tornou a capital (mais tarde conhecido como San Salvador). Missionários portugueses batizaram o Rei Nzinga Mbemba (? -1550), Que adotou o nome de Christian Afonso I. Em poucos anos, o reino estava trocando embaixadores com Portugal e com o Vaticano.
Até o final do século XVI, o reino do Kongo em sua extensão, praticamente deixou de existir. Invasões por grupos vizinhos do Leste enfraqueceram severamente, e tornou-se controlada por Portugal. No século XVII, ingleses, holandeses, franceses e navios negreiros teriam levado 13 milhões de pessoas do reino Kongo para o Novo Mundo. Ironicamente, o rei e seus súditos lucraram financeiramente com o comércio, mesmo com o seu reino desmoronando diante deles. Em 1884-1885, na Conferência de Berlim, as potências européias dividiram o reino entre os franceses, belgas, e Portugueses. Até o final do século XIX, pouco restou da outrora grande civilização Kongo. Tentamos à partir de pesquisas em literaturas, fontes catedráticas e informações coletadas por nós no Museu de Antropologia de Angola, assimilar fatos que cooperem para a disseminação de culturas e contribua para o crescimento intelectual.
O século XX assistiu a um renascimento do nacionalismo e da cultura do Kongo. O movimento religioso Kimbanguista ganhou um forte apoio na década de 1920 e tornou-se um trampolim para o sentimento anticolonial. Historiadores e missionários europeus, incluindo Georges Balandier e Pai Van Asa também ajudaram descobrindo o passado glorioso do reino. Seu entusiasmo inspirou intelectuais Bakongo no Congo Belga a exigir a independência imediata, em 1956. Eles fundaram um partido político, cujos candidatos ganharam a grande maioria das sedes municipais, em 1959, levando à eleição do presidente Joseph Kasavubu (1910-1969), um Mukongo, como o primeiro presidente do Congo. Hoje existem fontes afirmando que a origem do Presidente atual de Angola, o Dr. José Eduardo dos Santos,mesmo sendo apoiado pelo MPLA e sendo seu representante no poder desde 1975, deriva-se de uma aldeia Bakongo, no antigo Zaire.
O MPLA é rival do partido Bakongo que lutara pela independência do País. Enquanto esses movimentos secessionistas oriundos do Kongo vêm e vão, atualmente um grupo de fundamentalistas está tentando conquistar a independência para os Bakongo, e quer estabelecer um Estado federal Kongo composto por cinco províncias. Ele reuniria Bakongo que vivem no sul do Congo, o enclave angolano de Cabinda, a província mais baixa da República Democrática do Congo (Congo-Kinshasa, antigo Zaire), e norte de Angola. Seu nome seria Kongo Dia Ntotela (Estados Unidos da Kongo). As informações foram obtidas pela pesquisa da Universidade de Chicago.

2 • LOCALIZAÇÃO 

Os Bakongo são uma mistura de povos que assimilaram a cultura Kongo e linguagem ao longo do tempo. O reino consistia em cerca de trinta grupos em seu início. Seus habitantes originais ocupavam um corredor estreito ao sul do rio Congo a partir de hoje Kinshasa para a cidade portuária de Matadi, no Baixo Congo. Através de conflito, conquista, e tratados, eles passaram a dominar tribos vizinhas, incluindo o Bambata, o Mayumbe, o Basolongo, o Kakongo, o basundi, e o Babuende. Esses povos gradualmente adotaram a cultura Bakongo e através de casamentos misturado completamente com a Bakongo.
O reino Kongo já cobriu cerca de 120 milhas quadradas (300 quilômetros quadrados). Seus limites se estendiam até o Rio Nkisi para o leste, o rio Dande, ao sul, o Congo (Zaire) rio ao norte, eo Oceano Atlântico a oeste. O maior reino do século XVI estendeu mais de 62 milhas (100 quilômetros) a leste do rio Cuango e 124 milhas (200 km) mais ao norte do rio Kwilu. Hoje, os povos Bakongo ainda vivem em sua pátria ancestral. É bastante montanhoso e tem uma estação seca que dura de maio a agosto ou setembro. Dos três zonas ecológicas para o sul do rio Congo, na zona de meio montanhoso recebe a precipitação anual mais (55 inches/140 centímetros) e tem solos relativamente férteis e temperaturas moderadamente quentes. Conseqüentemente, é mais densamente povoada do que região litorânea de areia seca e o planalto árido infértil do leste.
Há cerca de 2,2 milhões de Bakongos que vive em Angola, 1,1 milhões na República Democrática do Congo (ex-Zaire) e 600.000 na República do Congo, onde eles são o maior grupo étnico. Em Angola, eles são o terceiro maior grupo, tornando-se 14 por cento da população.
3 • LINGUAGEM 

Os Bakongo falam vários dialetos de Kikongo, semelhante ao Kikongo falado no antigo reino. Estes dialetos diferem amplamente em toda a região, alguns dificilmente podem ser entendidos por falantes de outros dialetos. Para reforçar os esforços de construção da nação após a independência, o governo do ex-Zaire criou uma versão padronizada da linguagem, que incorporou elementos das muitas variantes. Kikongo padrão é usado em escolas de ensino fundamental em toda a Província de Baixo e Bandundu, e é chamado de Mono Kotuba (Estado Kikongo). Em 1992, pessoasque falavam o  Kikongo em todos os países somavam 3.217.000, a maioria dos quais vivia em Angola. Na República do Congo, os que falam kikongo são responsáveis ​​por 46 por cento da população.

4 • FOLCLORE


Lendas traçam aos Bakongo a ascendência de Ne Kongo Nimi, de quem se diz ter tido três filhos, cujos descendentes, agrupados em três clãs, formam a nação Kongo. Os filhos de Ne Kongo Nimi foram chamados Bana ba Ne Kongo, literalmente "os filhos de Ne Kongo". A sigla se tornou Bakongo. Provérbios, fábulas, lendas e contos ocupam um lugar importante na vida diária. Algumas lendas populares têm elementos bastante comuns, já que os contadores de histórias gostam de adicionar seu próprio tempero e tomar grandes liberdades em vestiremse as lendas tradicionais.
Um caráter popular, Monimambu, é conhecido pelos Bakongo e por outros povos através da literatura oral e escrita. Ele não é um deus, ao contrário, ele é uma figura fictícia com fraquezas e sentimentos humanos, que tem alguns sucessos, mas comete erros, também. Suas aventuras são divertidas, mas as histórias não apenas se divertir, eles ensinam lições também. Uma figura animal favorito em contos Bakongo é o leopardo.
Os Bakongo reconhecem Dona Beatriz como uma heroína congolesa. Nascida Kimpa Vita, ela se tornou uma mártir cristã, e mais tarde um símbolo de nacionalidade congolesa. Ela vivia em uma época de grande crise. Rivalidades tinham despedaçado o reino, e a capital de São Salvador estava em ruínas desde 1678.
Beatrice Kimpa Vita
 Heroína Congolesa
Em 1703, com a idade de vinte e dois anos, Beatriz procurou restaurar a grandeza do Kongo. Ela alertou para a punição divina se a capital do Reino não fosse reocupada. Dentro de dois anos, ela estabeleceu um novo ensino religioso e renovou a Igreja. Mas a sua oposição aos missionários estrangeiros levou a sua morte.
Controlada pelo Português, D. Pedro IV que a levou a prisão. Ela foi julgada por um tribunal da Igreja por heresia, condenado e queimado na fogueira. Seu idealismo e sacrifício inspiraram uma tradição de misticismo entre os Bakongo, e ela é considerada uma precursora do profeta do século XX Simon Kimbangu (1889-1951).


5 • RELIGIÃO 

Os Bakongo estavam entre os primeiros povos da África Subsaariana a adotar o cristianismo e, como um reino, tinha relações diplomáticas com o Vaticano. No período colonial, os missionários belgas estabeleceram seminários católicos nas aldeias de Lemfu e Mayidi e construíram as igrejas missionárias e escolas de todo o Baixo Congo.
nkisi
De acordo com a religião tradicional dos Bakongo, o criador do universo, chamado Nzambe, mora acima de um mundo dos espíritos ancestrais. Muitas pessoas acreditam que, quando um membro da família morre uma morte normal, ele ou ela se junta a este mundo espiritual (ou aldeia) dos antepassados, que cuidam da vida e protegem os descendentes que deixaram suas terras.
Os Espíritos daqueles que morrem de formas violentas e intempestivas são pensados ​​para ser, sem descanso até que suas mortes foram vingados. Feiticeiros são contratados para descobrir através do uso de fetiches ou amuletos chamados “nkisi” que era o responsável pela morte. Além disso, práticas de cura e religião tradicional andam de mãos dadas. Os curandeiros tradicionais chamados “nganga” pode ser consultado para tratamentos com ervas ou para erradicar “kindoki” (bruxas praticando magia negra, que são pensadas para causar a doença por meio de má vontade, e para comer as almas de suas vítimas por noite).
Estas crenças foram misturadas ao cristianismo, e elas produziram novas seitas. Na década de 1920, Simon Kimbangu, um membro da Igreja da Missão Inglêsa Batista, afirmou ter recebido uma visão de Deus, chamando-o para pregar a Palavra e para curar os doentes. Ele ensinou a lei de Moisés e falou contra a feitiçaria, fetiches, encantos, e a poligamia (ter mais de um cônjuge ao mesmo tempo).
Kimbanguistas preparando-se para
Ritual de passagem
As vestes verdes são obrigatórias
Quando ele começou a falar contra a Igreja e o governo colonial, foi preso pelos belgas e condenado à morte. Mais tarde, sua sentença foi alterada para prisão perpétua, onde morreu em 1951. Eventualmente Kimbanguismo ganhou reconhecimento legal do Estado, e sua Igreja tornou-se uma forte defensora do regime de Mobutu. Atualmente, cerca de 1.800.000 membros ativos pertencem à Igreja Kimbanguista em Angola e 17.000.000 no Mundo, incluindo o Brasil, entretanto a maioria deles vivendo no Baixo Congo.


6 • FÉRIAS GRANDES 

Dada a incerteza política em seus países de residência, os Bakongo comemoraram feriados seculares tranquilamente nos dias de hoje. No entanto, os Kimbanguistas fazem uma peregrinação anual ao rio Kamba para honrar seu profeta. No rio que se oferecem sacrifícios, orar, pedir bênçãos, e tirar um pouco da água, que é considerado sagrado. Kimbanguistas creem em Jesus como o Filho de Deus e, portanto, comemoram o Natal e a Páscoa, que são os principais feriados.
Na República Democrática do Congo, os Bakongo celebram o Dia Pais (1 de Agosto), juntamente com os seus concidadãos. Nesta dia, as pessoas vão aos cemitérios de manhã para enfeitar túmulos dos familiares. Os túmulos podem ser cobertos no alto com capim-elefante seco, que é queimado, criando uma atmosfera sobrenatural.
À noite, as famílias se reúnem para compartilhar uma refeição festiva e alargada.

7 • RITOS DE PASSAGEM

Os Bakongo acreditam em uma relação estreita entre os não-nascidos, os vivos, os mortos. Se eles são cristãos, eles batizam seus filhos. No nascimento, há um ritual chamado de Kobota elingi (que significa literalmente "o prazer que é dar à luz"), uma festa para amigos e parentes que vêm para compartilhar a alegria dos pais e para celebrar a continuidade da família.
Até recentemente, a iniciação (Longo) realizou um lugar importante entre os ritos de passagem. À partir do ritual (Longo) as crianças eram iniciadas aos segredos da tradição Bakongo necessárias para assumir as responsabilidades da vida adulta. Durante Longo, as crianças aprendem o comportamento adulto, como iniciarem suas obrigações sexuais ( o tio ou a tia materna iniciam as crianças em suas práticas sexuais – isso não é considerado incesto ou pedofilia na tradição Bakongo), incluindo o controle de suas reações físicas e emocionais para o mal, o sofrimento e a morte. As cerimônias diferem na forma, duração e nome entre os diferentes subgrupos Bakongo. No passado, eles duravam até dois meses. Hoje em dia, dada a ocidentalização e calendários escolares rígidos, menos filhos passam pelo rito.
A morte é uma passagem para a próxima dimensão, para a aldeia dos espírito, dos antepassados. No passado, os túmulos do Congo eram muito grandes, feitas de madeira ou pedra, e se parecia com pequenas casas em que a família ornamentava com os móveis e utensílios do falecido e alguns objetos pessoais. O cadáver era vestido com roupas finas e colocado em uma posição recordando seu status. Grades são usadas hoje em dia e costumam ser marcadas com não mais do que cruzes concretas, mas alguns ainda exibem elaborados de alvenaria e pedra cruzes que refletem influência Portuguesa.
Os túmulos mais elaborados têm estátuas de amigos e familiares montados ao redor do túmulo. Alguns túmulos são tão detalhados que eles realmente são obras de arte. Vamos buscar para aqui mais um desenho de um, túmulo que aparece na mui curiosa e valiosa obra do Ex.mo Senhor Professor Doutor Silva Cunha, presentemente Mui digno Ministro do Ultramar, obra intitulada «Aspectos dos Movimentos Associativos da África Negra» (Ministério do Ultramar - 1958) e para o qual conseguimos a interpretação dos símbolos. Mas note-se que a interpretação deste como dos outros foi procurada e conseguida por nós... 

MODELO DA TRADIÇÃO ORAL:
Inscrição LCI DL JAPASCL DECER - 1951
- Uma palmeira e dois homens. 
Pergunta, o que está ao centro, ao que está debaixo da palmeira:
- Nani ouo ke va sina liba? 
- Minu. 
- Nani ngeie? 
- Minu mpuili. Libá liámi. 
- Kokue ngeie? lenda kuaku. Libuku libika 
bakulu bámi.
Tradução:
- Quem está debaixo da palmeira? 
- Eu. 
- E tu quem és? 
- Sou eu, o dono. A palmeira é minha. 
- Ai é tua? Vai-te embora. Esta é a terra que me deixaram os meus antepassados.

A riqueza dos detalhes funerais Bakongo

8 • RELAÇÕES

Os Bakongo são pessoas amigas que normalmente saúdam uns aos outros, tanto verbalmente como pelas mãos trêmulas. A saudação familiar em Kikongo é “Mbote, Tata / Mama. Kolele?” – Kiambote Kieno (aprendi no Capolo II em Luanda!).
O respeito por figuras de autoridade e idosos é impressionante (Olá, Mama, Papa, Sir / Quais são as notícias? senhora, senhor...). O cumprimento se dá segurando a mão esquerda para o pulso direito quando apertando as mãos. Os homens geralmente andam de mãos dadas em público como um sinal de amizade. As crianças são instruídas a sempre receber objetos com as duas mãos.
Embora os jovens possam iniciar o namoro, o casamento é muitas vezes arranjado pela família, com irmãos/primos (os primos são chamados de irmãos também) mais velhos ou membros da família, sugerindo possíveis companheiros.

9 .  O ALAMBAMENTO NA CULTURA BAKONGO

Sobrinho do Pastor Leio Sungo - Meu padrinho que presidiu o alambamento em 2013

 O  RITO 



Depois da família do pretendente fazer a entrega da carta de pedido, é marcada nova data para que se apresente formalmente à família da jovem pretendida!
Passado algum tempo após a leitura da carta de pedido, o pai da moça convoca novamente a sua família e a família materna da sua filha para decidirem então marcar uma data para que a família do rapaz se apresente, ou seja, para que se faça uma apresentação formal de ambas às famílias. Para marcar a reunião de apresentação com a família do rapaz, o pai da moça escreve uma carta que é levada pela própria filha (essa carta pode ser manuscrita ou digitalizada como atualmente acontece). A família do rapaz, por sua vez, deverá dizer se está de acordo ou não com a data proposta. Se não estiverem de acordo, cabe a eles proporem outra data; caso aceitem a data proposta, a moça avisa ao seu pai.
Cabe a este avisar à família e iniciar a preparação para receberem a outra família.
No dia marcado, a família da moça espera pela família do rapaz em sua casa na hora combinada (esta hora deve ser respeitada, o atraso do rapaz e da sua família pode resultar numa multa de até dois mil kwanzas). Cabe a família da moça preparar os alimentos e as bebidas que serão consumidas depois da conversa. Dentre os diversos pratos típicos da região, não deve faltar  carne de cabrito e de galinha que são abatidos no dia anterior ou na manhã do mesmo dia. Estes alimentos simbolizam a honra prestada aos futuros sogros da sua filha.
Pais dos Noivos
A família do rapaz faz-se acompanhar de bebidas industrializadas ou de fabrico caseiro, conforme a região em que se encontram. Assim, nas zonas rurais, regra geral, pode levar-se no mínimo dois garrafões: um de maruvo e outro de mbanvo, ou ainda garrafões de vinho; nas zonas urbanas ou mais modernizadas, a família do rapaz leva no mínimo duas grades: uma de cerveja e uma de gasosa (a quantidade de bebidas depende da família do rapaz; assim, podem dar entre duas a quatro grades). Estas bebidas são importantes porque concedem a permissão tanto para que a família do rapaz entre na casa dos pais da moça, como para tomar a palavra durante a reunião, pois, como eles mesmos dizem, “servem para pedir licença”.
Os membros da família da moça sentam-se separadamente dos membros da família do rapaz; sentam-se frente a frente, deixando entre eles um espaço que varia entre 1 e 5 metros, criando assim um “cenário” próprio para o diálogo.

Os inconvenientes

O dote sendo conferido
(EU filmando no fundo)
 Cada família tem um intermediário que fala diretamente com a outra família. Se ambas as famílias forem Bakongo, todo diálogo é proferido em Kikongo; se apenas uma das famílias for Bakongo (sobretudo quando são os familiares da mulher) o intermediário fala em kikongo e depois traduz em português. É nessa reunião onde se falam das zonas de proveniência da família da moça e do rapaz, quer materna como paterna, dos seus antepassados e dos respectivos nomes das “Luvila” (significa Clã; como anteriormente já dissemos, o nome desta possui extrema importância para o reconhecimento de parentes distantes) que é repetido várias vezes durante a reunião, para, além disso, os saberes e os provérbios também são recitados, e geralmente o interlocutor recita as primeiras frases e os participantes completam-na.
Parentes da Noiva
Quando uma das famílias não concorda com algo, podem retirar-se para ir fazer “fulu” (isto é, uma reunião restrita entre os membros de uma família); a outra família, por sua vez, fica à espera e envia alguém que servirá de espião que deverá contar de uma forma resumida o assunto discutido no “fulu” e a opinião final deles (normalmente é alguém conhecedor de assuntos matrimoniais). Até aqui nada ainda está definitivamente acordado, porque é nessa fase onde se avaliam as possibilidades de haver ou não o casamento, caso existirem eventuais inconvenientes.
Atualmente os inconvenientes mais comuns podem ser existência de algum grau de parentesco em comum; pertença a mesma “Luvila”
Momento em que ocorrerá a LUVILA

– Clã; reputação indigna por parte de um dos jovens que pretende casar-se ou da sua família. Antigamente havia mais outros inconvenientes que eram: hostilidade entre povos de diferentes zonas, municípios ou cidades de origens; existência de casos de feitiçaria numa das famílias. A vez da pretendida moça não assiste à reunião. 
Ela deve aguardar dentro de casa e só se apresenta diante de ambas as famílias depois de estar tudo acordado entre elas. Ela é acompanhada por uma da  “sé dya nketo” (irmã do pai) e assim é apresentada aos familiares do rapaz. Nesse momento, o interlocutor da família da moça faz questão de argumentar algumas das qualidades da mesma, fala da sua beleza, dos seus dotes de culinária e, sobretudo da educação que recebeu.
Pais dos Noivos defendendo a Clã

Então, pede-se a moça que vá junto da outra família e mostre a todos quem é que a pediu em casamento. Esta por sua vez, deve ir ao encontro do seu pretendente, dá-lhe a mão, beijam-se no rosto e acompanha-o diante de todos.
Ambos permanecem de pé até que terminem as apresentações formais diante dos olhos de todos e são declarados, a partir daí, “noivos”.
Pastora Sandra Sungo com a Netinha




Entrada da Noiva - Com danças pelas "Madrinhas"















Assim lhes é orientado para que se sentem juntos num lugar reservado para eles. As últimas considerações são feitas e, conforme o acordo, a família do noivo pode ou não levar a lista de artigos necessários para a realização do alambamento. 












A reunião é encerada com os alimentos e as bebidas preparadas pela família da moça.
 (Esse alambamento foi tão "intrigante" que o Tio do Noivo o Pastor Leio se retirou.
A família do noivo se sentira ofendido pelos dotes e pelo clã, que pensei que iam se bater. 
Mas no final, acabou que nem no Brasil: em pizza!!!)
Hora da Pizza
 
9 • CONDIÇÕES DE VIDA


As condições de vida são bem pobres para os  Bakongo. As famílias rurais tipicamente vivem em cabanas de um ou “barraco” de dois quartos com palha ou lata telhados, e sem eletricidade. Cozinhar é feito principalmente do lado de fora. Janelas são abertas, permitindo que moscas e mosquitos entrem dentro da casa e as fontes de água são completamente desprotegidos e muitas vezes tornam-se contaminadas. As doenças infecciosas e parasitárias na República Democrática do Congo (RDC) causam mais de 50 por cento de todas as mortes. Crianças menores de cinco anos de idade, que compõem 20 por cento da população RDC, são responsáveis ​​por 80 por cento das mortes. Cerca de 1,1 milhões de habitantes tem AIDS.

Suas dietas diárias geralmente não têm quantidades suficientes de vitaminas, minerais e proteínas. Apesar de redes de estradas pobres, grande parte da produção agrícola da região do Baixo Congo compra alimentos nas cidades (comunidades urbanas) tais como Brazzaville, Kinshasa, e Luanda.

10 • VIDA FAMILIAR

Bela e sua família no CapoloII
A família Bakongo vive como uma unidade nuclear e geralmente é monogâmico (apenas um marido e uma esposa). Embora normalmente as mulheres dêem à luz a um máximo de dez crianças, doenças e outras doenças levam muitas crianças a morte enquanto eles ainda são bebês ou pequenos. No entanto, as crianças são um sinal de riqueza, e os pais consideram-se abençoado em ter muitos filhos. 
Bakongos do Capolo II - Matriarca mãe da Bela
Os Bakongo são matriarcais. 
As crianças pertencem à linhagem de sua mãe, e o tio materno é responsável por eles, mesmo enquanto seu pai está vivo. O tio materno decide onde os filhos de sua irmã vão estudar e que carreira eles vão prosseguir. Se um homem é bem sucedido na vida, por recusa-se a ajudar a família, ele pode ser fortemente criticado por seu tio. Por outro lado, no caso de certos infortúnios, o próprio tio pode ser acusado por estes infortúnios e se for comprovada sua culpa poderão ser apedrejados devido a estas irregularidades. No entanto, as formas patriarcais europeias  começam a enfraquecer o sistema tradicional.

11 • ROUPAS


Nos tempos antigos, os Bakongo usavam roupas feitas de casca amolecida batida. No entanto, através de sua longa associação com o Ocidente, os Bakongo adotaram roupas ocidentais. Fotografias de final dos anos 1880 os mostram vestindo roupas com “sarongues” (saias envolventes). Eles geralmente são considerados roupas muito apropriadas para as congolesas.
Mulheres adotar as últimas modas e penteados locais, que mudam a cada poucos meses. O essencial é o sarongue Africano (pagne). Muitas famílias são obrigadas a comprar roupas usadas nos mercados das ruas que vedem os famosos fardos. Crianças geralmente usam camisetas, shorts e calças de algodão soltas para
 uso diário.




12 • ALIMENTOS

Os Bakongo são mais conhecidos por suas modas do que pela sua culinária. Normalmente, eles comem três refeições por dia. No café da manhã, uma família de uma aldeia come uma espécie de bola de massa feita de farinha de mandioca (fufu) com molho do dia anterior (fugi).
Fufu
Costumam usar seus dedos para comerem , e antes de comerem, eles lavam as mãos em uma bacia de água morna. Algumas pessoas podem comer café e pão francês, que é cozido localmente toda a região. Nos supermercados locais temos muitas variedades, principalmente em Luanda!   
Fungi
A refeição do meio-dia é a que costuma valer para o dia todo. Os Bakongo desfrutam de vários molhos, comidas com fufu ou com arroz. As folhas de mandioca (saka saka), trituradas e cozidas, são sempre muito apreciadas. Peixe salgado seco (makayabu) ou sardinhas são adicionados para fazer um rico “saka saka”. Outro prato favorito consiste em socar sementes de gergelim (Wangila), e acrescentar em camarões seco pequenos. Batem sementes de abóbora (mbika), temperam com muita pimenta e envolvem em folhas de bananeira.
Saka saka
Esses alimentos são vendidos em bancas de beira de estrada e são um petisco popular para os viajantes. O prato mais comum é o feijão branco cozido em molho de tomate, cebola, alho e pimenta óleo de palma. Os grãos são comidos com arroz, fufu, ou chikwange (um pão de mandioca preparado em folhas de bananeira).

chikwange
 Ceia geralmente consiste de restos de comida, mas chikwange com um pedaço de makayabu coberto de molho de pimenta é muito gratificante, principalmente quando regado com cerveja. Kin (Kinshasa) costuma ser comido nos 7 dias da semana ("Kinshasa- significa - sete dias de pão") é um pão gigante, tão grande que supostamente leva serve a uma  família inteira por uma semana.
O povo Bakongo costuma ser apreciador de vinho de palma. O sumo da palma é extraído da parte superior do tronco da palma de coco. Ela fermenta dentro de horas e deve ser bebida no dia seguinte. No sábado e domingo à tarde, as pessoas sentam-se sob árvores de manga, apreciando a bebida picante e leitosa. Eles também fazem o vinho de cana de açúcar (Nguila), vinhos de fruta, e gim caseiro (cinco centavos).É costume de derramar uma pequena quantidade sobre o terreno para os antepassados ​​antes de beber.

13 • EDUCAÇÃO

Por causa de sua longa história de contato com missionários europeus, os Bakongo possuem relativamente altos níveis de alfabetização e educação. Atualmente, a maioria dos pais quer mandar seus filhos para a escola e para estudarem fora do país, mas muitas crianças, mesmo sendo de famílias de classe média são obrigados a abandonar, pelo menos temporariamente os estudos por razões financeiras. Assim, não é raro encontrar jovens de vinte anos em algumas escolas de ensino médio.

14 • PATRIMÔNIO CULTURAL

No Congo costumam classificar como arte tribal os Bakuba de Kasai e os Baluba de Katanga que são tribos do RDC sudeste. Um tipo de estátua “Mintadi”, ou "chefe", foi um grande pedaço de escultura projetada para "substituir" o chefe da tribo, enquanto ele estava em guerra ou a visitar o rei em São Salvador.
Bakuba de Kasai
Estas estátuas, dos quais algumas se mantêm erguidas, foram esculpidas em pedra ou madeira e demonstrava ma autoridade do chefe tribal. Outro tipo de arte de "maternidade" mostrava uma mãe e filho. Em sua semelhança com representações da Virgem Maria, estes mostram uma influência católica e essas máscaras são notáveis ​​tanto para seu realismo e sua serenidade.
 
Kikongo tem uma tradição de séculos de literatura oral e escrita. A literatura Kikongo é muito rica em provérbios, fábulas, adivinhas e contos populares. Partes da Bíblia foram traduzidas para o Kikongo, na última parte do século XIX.

15 • EMPREGO


Com exceção do  migrante urbano, os  Bakongo são agricultores de subsistência, com pequenas plantações de mandioca, feijão e legumes. Plantações de árvores de fruto são comuns em algumas áreas.
Em geral, a agricultura é apenas moderadamente produtiva por causa do clima seco e solos inférteis ao longo da costa e nas regiões de planalto. Ao longo da costa, no entanto, a pesca é responsável pelo sustento de muitas pessoas. O desenvolvimento da indústria, prometido em 1970, começa a se materializar, porém a passos lentos.

16 • ESPORTES

Em todos os três países que abrigam os Bakongo, o futebol é apreciado por todos e os meninos e jovens gostam de assistir de jogá-lo em qualquer lugar e sempre que possível. Como regra geral, porém, as pessoas acham muito menos tempo para praticar esportes do que no Ocidente. Mesmo aos domingos, eles podem cultivar os seus campos ou tendem árvores de fruto, a fim de ter uma boa colheita.

17 • RECREAÇÃO

Além de jogar e assistir futebol, as pessoas gostam de contar histórias. Muitos não tem eletricidade para ler ou assistir televisão, com isso as pessoas crescem ouvindo e aprendendo a contar contos. Quase todo mundo gosta de música e dança. Kinshasa e Brazzaville são centros de música Africana Central, que é apreciado em todo o continente. Luanda é famosa por suas casas noturnas. Os jovens, principalmente, estão continuamente aprendendo as últimas danças. Nas noites de sábado, moradores da cidade vão para cinemas ou para performances teatrais. Outros vão a bares para dançar e socializar.

18 • OFÍCIOS E HOBBIES

Tradicionalmente, os artesãos Bakongo se destacaram em talha, escultura, pintura e alvenaria. Um exemplo de sua escultura intrincada é encontrado em suas capas bacia de madeira que têm figuras humanas para alças. Eles também se especializam em cetros (bastões reais elegantes), sinos de tornozelo, “cauda de vacas voadoras” (abanadores) e garrafas para pós medicinais e mágicas, muitas vezes exibindo imagens de pessoas e animais. Máscaras, por outro lado, têm sido menos importante para os Bakongo do que outras pessoas, como os Luba. 
Um único tipo de arte popular é o fetiche, que é um animal esculpido em madeira e impulsionada cheio de pregos. O Mayumbe é usado perto das cabaças pintado nas costa (cabaças), decorando-os com cenas de caça e desenhos geométricos coloridos.

19 • PROBLEMAS SOCIAIS

Os Bakongo enfrentam muitos dos mesmos problemas que os seus concidadãos em seus países de origem. Eles devem lidar com a urbanização descontrolada, o colapso dos sistemas de cuidados de saúde do estado, a falta de empregos bem remunerados e instabilidade econômica. 
Tanque Russo Usado na guerra civil que durou 35 anos
 Pode ser visto na Estrada para o Uíge
Politicamente, no Congo os nacionalistas nunca aceitaram a divisão de seu antigo reino na conferência de Berlim, em 1884-1885. Eles argumentam que a partição foi uma decisão européia em que não participou a opinião congolesa. Conseqüentemente, desde a década de 1950 em Angola, Holden Roberto e da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) oposição pela primeira vez ao regime Português e, em seguida, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Seu objetivo era a reunificação da propagação Bakongo em três países. Suas atividades têm resultado em repressão e massacres, o mais recente deles ocorreu em janeiro de 1993, a conhecida "Sexta-feira Sangrenta", quando entre 4.000 e 6.000 Bakongos foram mortos. Os Bakongo em Angola também estão em perigo por causa do regime de ligação com a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) (que são rebeldes ao governo atual). Embora Bakongo componham 14% (média) da população angolana, que detêm apenas 2,5 por cento dos assentos na legislatura.




Christianne Thomes Viana©
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20 • BIBLIOGRAFIA

- África ao Sul do Sahara Londres:. Europa Publications Ltd., nd

- Balandier, Georges Vida Diária no Reino do Kongo:. Desde o século XVI ao século XVIII Londres:. George Allen and Unwin, Ltd., 1965.

- Hilton, Anne O Reino do Kongo Oxford:.. Clarendon Press, 1985.

. MacGaffey, Wyatt Religião e Sociedade na África Central:. Os Bakongo da Baixa Zaire Chicago: University of Chicago Press, 1986.

- UNESCO – Historia geral da Àfrica – Volumes de 1 a 6.

Sites de pesquisas: 
Rainha Ginga - Museu Militar Luanda - Acervo da Autora






Comentários

  1. Seu amor por esse povo é obvio e lindo.

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    1. Sim Sandra. O Senhor colocou um imenso amor em meu coração por este povo! Abraço.

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  2. Obrigada por compartilhar seus conhecimentos com uma linguagem simples e objetiva.

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  3. Muito obrigado por essa informação, ajudou-me bastante.
    paz!

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