COMO RE-SIGNIFICAR AS EMOÇÕES NEGATIVAS QUE DESTROEM NOSSO SELF?

Emoções fazem parte da Self humana. Algumas são altamente negativas e disfuncionais.


Não tem coisa pior que estar em um ambiente onde uma pessoa procura te afetar emocionalmente de forma negativa. Não sei você, mais isso acontece recorrentemente comigo.

Seja num novo posto de trabalho, em uma festa com uma roupa bacana, num bar ao lado de um amigo ou amiga descontraído e alegre, enfim, não faltam olhares negativos e sugestões invejosas frente a algo bom, belo e feliz.

Recentemente, inicie um novo trabalho. A equipe me acolheu de braços abertos. No período da experiência, um rodízio adaptativo foi instalado. Afinal, precisamos estar a par de todos os modus operandi.

Não muito tempo depois de receber o material de trabalho que pertencera a outrem, percebi que o material não ficava nunca no local em que eu o guardava após a jornada de trabalho. Sem muito entender. Observei.

Após alguns dias observando silenciosamente, mapeei o plantão e as possíveis pessoas que estariam em posse da bolsa velha, que eu precisava usar, até que a empresa dispusesse de novo material.

De forma amistosa, fui até a colega e perguntei se ela estava em posse desse material. Sem maiores delongas, disse que sim, e que passou a utilizá-lo porque “pensou que estava sem uso”. Curioso, é que, três bolsas estavam sob sua posse.

Passado algum tempo, formamos dupla e os dias foram construtivos, até que, surgindo algumas modificações nas escalas, ela sugeriu minha saída. De sobressalto, pensei: Mas acabei de chegar!

Neste fim de plantão, ela me tocou e disse: Adeus! Foi bom trabalhar com você. Desejo sorte com sua nova parceria! – Confesso, que me preocupei, fiquei sobressaltada, e, entender a realidade dos acontecimentos. Mas tudo isso, só reforçou a ideia de que essa pessoa realmente estava invocada comigo.

Chegamos a outro final de semana, e, por orientação dessa figurinha, louca-louca para se ver longe de mim, peguei meus pertences e levei para casa. Deixei a tal da bolsa no mesmo lugar. Não sei porque não a levei comigo, afinal ela me fora dado ao trabalho, independentemente de uma nova localização.

Pois bem! Na outra semana a surpresa: lá vou eu de volta para o mesmo lugar! Afinal, a pandemia nos separa em muitos contextos, mas na minha profissão, aproxima mais e mais.

Chego eu, com a mesma gratidão e alegria que as segundas-feiras me dispõem. Vou ao armário, e, o que acham que ocorreu? Yes! A bolsa não estava lá. Nem em lugar algum! Desapareceu a bendita bolsa velha do antigo colega a qual eu havia substituído! Seria seu fantasma?

Uma ligação confirmou que a colega havia surrupiado a bendita bolsa velha e, escondido bem escondidinho, numa tal gaveta de uma escrivaninha numa sala daquela imensa empresa. Arff! Lá vou eu brincar de detetive! Como sempre fui boa em descobrir pistas, achei a bendita!

O que ainda não ficou claro, foi a intenção desse comportamento. Como não sou fã de juízo de valor, aguardei as cenas dos próximos capítulos para compreender, ou não, as intenções por trás dessas ações. Apenas ela poderá me dizer o porquê.

Mas será que ela já percebeu o que está fazendo?

Há muitos séculos, Aristóteles dizia: A dúvida é o princípio da fé. O que significa para este outro, uma necessidade de conter algo que não lhe pertence? O que está por trás de tamanha insegurança? Qual é a origem deste medo?

A ciência comportamental justifica a habituação humana como algo instintivo ao seu caráter de sobrevivência. Uma forma primitiva de adaptação aos novos meios de relações.

Desta forma, o ser humano se adapta, habitua, estabelece padrões e crenças que resistem à mudanças, que de alguma forma lhe ameaça.

Em um trecho da canção “The essence of destiny”, Donne Hathaway, diz:

“Escolhas seus pensamentos, porque eles se tornarão suas palavras. Escolha suas palavras, porque elas se tornarão suas ações. Escolha suas ações, porque elas se tornarão seus hábitos. Escolha seus hábitos, porque eles tornarão a sua personalidade, e esta, por sua vez, se tornará seu destino! ”

 

E por falar em destino, ele tem sido a grande justificativa para a antecipação de muitos medos: uma ansiedade instalada!

Algumas pessoas, têm tanto medo de perder, que se instalam numa espécie de cachoeira ambulante, ou seja, lançam sua fúria em águas descendentes.

O que talvez essas pessoas ainda não tenham se apropriado é da verdade quanto aos medos serem altamente funcionais, quando compreendidos enquanto potencial de coragem e recomeço!

Santo Agostinho dizia aos seus discípulos: “Só procuramos no mundo aquilo que conhecemos! ” – Como se pode então achar no outro-estranho, a porção de felicidade ou gozo? O que não se compreende, não se pode usufruir! Por isso o comportamento modal e a inveja, são derrotistas.

Algumas pessoas estão tão obsoletas em suas crenças determinantes, que internalizam a ideia de que a felicidade ou sucesso está sempre um passo à sua frente, e no outro.

Esses pensamentos disfuncionais negativos e usurpadores, mantém essas pessoas em um lugar de trevas obscuras, levando-as a questionar: Por que ela (e), tem mais sorte do que eu?

Gautama Buda disse certa vez: Aprender é mudar! Mas então, por onde iniciar esse processo de re-significação?

Eu costumo dizer, que antes de qualquer passo sólido em busca de um lugar de segurança e realização, é preciso identificar o “animal interno”. Alguns tipos raros de animais, nós identificamos como vampiros psíquicos!

Henry Fonda disse: “Todos julgarão a própria vida muito mais interessante se deixarem de compará-la com a dos outros! ” –  Esse ensinamento nos leva a um princípio cristão: Não julgueis, para que não sejais julgados.

Em grego o termo julgamento é anakrino, que etimologicamente significa: ver, enxergar com clareza algo, antes de censurar. Isto é, agir com equidade. Quando olhamos com equidade, percebemos para além das nossas acheologias, e , permitimos ao outro, oportunidade de revelar o seu melhor.

Mas porque então, algumas pessoas nos incomodam tanto, a ponto de sentirmos antipatia?

La Rochefoucald disse: “ A maior parte de nossas falhas é mais perdoável do que os meios que usamos para disfarça-las. ”  -  Muitas vezes odiamos o melhor do outro, mas não reconhecemos nosso pior. O desejo do outro em mim!

Algumas sentem ódio, inveja, medo e preferem reprimir essas emoções, por considera-las negativas, em vez de encontrar soluções através delas. Um provérbio chinês diz: Das nuvens mais escuras cai água clara e fertilizante.

Por trás de cada sentimento há uma necessidade que foi satisfeita ou precisa ser. O segredo é explorar essas emoções a fim de descobrir que está por trás delas, suas reais necessidades. Por trás de uma emoção negativa, sempre há um desejo latente.


Por exemplo, a palavra inveja vem do latim inviere, que quer dizer, “não ver”. Quando se sente inveja, essa pessoa reflete algo que não se enxerga em si mesmo. Por exemplo, ao ver uma amiga (o) saradona (ão), sente-se a necessidade de cuidar melhor de um corpo fora de forma.

Logo, o que se admira no outro e não se-vê-em-si, torna-se um sentimento negativo, ao invés de simples admiração.

Uma mulher bem-sucedida profissionalmente e afetivamente, me procurou certa vez no consultório para me dizer que sentia um imenso vazio ao ponto de seu nível de stress aumentar tanto, necessitando de intervenção clínica e medicamentosa.

Ao analisarmos os supostos “gatilhos comportamentais aversivos”, descobrimos que a causa desse vazio se deve ao fato dela reprimir a tristeza em relação ao emprego. Apesar de bem-sucedida no que fazia ela não alcançava satisfação.

Sua necessidade maior era ter realizado seu desejo de ser artista, mas sua família, tradicional na marca e status empresarial naquela cidade, considerava marginal essa escolha.

Desta forma, para “honrar o status quo familiar”, ela suprimiu seu sonho, nisto, a tristeza tornou-se sinônimo de não-realização.

Ao resinificarmos seu lugar-no-mundo, à partir, do que ela de fato era-em-si, descobriu-se que trabalhando como voluntária em um hospital infantil com artes cênicas, ela poderia ir de encontro ao seu desejo e manter-se em harmonia com o desejo dos outros significativos.

Ser-em-si; Ser-no-mundo e Ter-o-mundo-em si, promoveu essa trajetória de resiliência e minimização dos sintomas do stress e vazio existencial. Trabalhamos seus sentimentos negativos e potencializamos resiliência e não fuga-escape ou, mesmo negação.

Muitas pessoas passam uma existência infeliz, sem saber de fato o que desejam. Mudam de emprego, mudam de casa, de relacionamento, e, assim vai.... Depois, insatisfeitas, mergulham em suas emoções e negações. Afinal, isso gera dor! Dói reconhecer que se sente inveja de alguém!

Mas quando se aceita o fato de que existe um sentimento de cobiça, inveja, amargura, desejo oculto, dentre outros, em si, o autoconhecimento é possível.

Quando se vai à luta em busca de amenizar essa dor, e/ou, suprir essa necessidade, percebe que os sentimentos que e considera negativos, na verdade foram gatilhos libertadores, pois indicaram o caminho da ressignificação e reconstrução de um EU abatido e atrofiado.

Utilizei o exemplo da inveja, mas poderia ter usado outras emoções. Esses sentimentos não devem ser ignorados, por mais vergonhoso que se considere. O desenvolvimento de uma inteligência emocional que permite maior felicidade só é possível no reconhecer de nossas emoções.

Lembre-se de nosso provérbio chinês:  Das nuvens mais escuras cai água clara e fertilizante. “

Eu voltarei ao meu posto de trabalho na semana que vem. Muitas bolsas sumirão. Outras se apresentarão. Mas o que eu prendo com toda essa experiência, é que, dando ao outro o lugar de re-significação, eu cresço e aprimoro, não só meu modo-de-ser-no- mundo. Mas também o meu lugar enquanto Ser-no-Mundo.

Finalmente, encerro essas linhas com um trecho do poema de Gear Herbert: “ Senão você, então quem? Senão agora, então quando? “ - Quem sabe esses ensinamentos não alcançam muitas léguas e voltemos a nossa história com muitas águas claras?

Que haja fertilizante em nosso existir!

Até Breve!

                                                                                                                                Christianne Sturzeneker

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