CASOS REAIS DE VIOLÊNCIA E ABUSOS – COMO IDENTIFICAR E CUIDAR



Neste artigo apresentaremos alguns casos reais para orientação psicológica em caso de abusos e violência.

Cada dia, as manchetes nos estarrecem de situações de violência. Contudo, diante da massiva midiática, um comportamento de esquiva se instala.

O típico comportamento de hábito, para alguns, fruto da evolução e adaptação das espécies na garantia do sobreviver, para outros, negligência.

Publiquei há algumas semanas, um artigo sobre Violência Intrafamiliar na Revista A Empreendedora, a qual faço parte do corpo de colunistas oficiais.

Um leitor, me procurou Inbox e perguntou-me: Chris, por que você está falando desse assunto em um momento em que o que está “bombando” é o COVID-19?

A resposta é simples: Com a necessidade da quarentena, os agentes familiares estão passando mais tempo juntos. Muitos, não estão habituados a passarem tantos tempos juntos ociosos em casa.

A quarentena é um momento para se perceber e mesmo, justificar as contingencias de constantes obrigações.

A falta de habilidade emocional para lidar com questões ansiosas, medos, dificuldades, ou mesmo, a comunicação hostilizada, poderiam reforçar o comportamento violento e abusivo no seio intrafamiliar.

Desta forma, o que nos chama mais atenção, não é o agente abusivo externo – mas, o interno!

Nossa experiência em comportamentos disruptivos, associais, negligentes e violentos, nos respalda quanto a esta preocupação e necessidade de informação e orientações constantes.

Nesta justificativa, queremos aproveitar este espaço para estudarmos alguns casos, selecionados devido ao seu caráter semelhante em muitos contextos. Todas as personagens terão garantia de seus anonimatos.

Nosso objetivo é chamar atenção dos nossos leitores a partir das narrativas para que observem e denunciem comportamentos abusivos. Ao final, descreveremos as formas mais fáceis para realizarem a denúncia.

O CASO BIA 
Quando o aconselhador também é vil




Bia é filha de um casal extremamente dedicado. Ambos pais viajavam muito a trabalho, e por conta dessa obrigação, a família precisou mudar-se para outro país.

Há algum tempo, a família conseguiu tirar férias e voltaram para o Brasil. Na ocasião, Bia criou coragem e contou à mãe sobre o abuso sexual que sofria no outro país.

O empregado da família, residente aos mesmos, costumava acariciar a menina e as vezes forçava-a a fazer sexo. Ele ameaçava-a constantemente, inclusive alegando que ninguém acreditaria nela, caso ela lhe entregasse.

Nesta ocasião, os pais de Bia, sem saber como lidar com isso devido a vergonha por serem pessoas muito conhecidas, inclusive religiosas, procurou certa Igreja para se aconselharem com um dos líderes.

Bia hesitou em falar sobre o assunto nas primeiras sessões. Mas progrediu ao longo dos meses para se ver livre dos traumas dos abusos sexuais.

Certo dia, o jornal local informou que o “conselheiro daquela igreja” havia sido preso por “ação libidinosa” com um jovem paciente numa clínica onde ele trabalhava.

A família procurou outro terapeuta, desta vez uma psicóloga. Mas Bia regrediu. Ainda que tenha se mostrado atenciosa, receptiva, a profissional, mesmo reconhecida não conseguia minimizar a raiva e isolamento de Bia.

Bia continua em tratamento. Desta vez, acompanhada pela psiquiatria, fazendo uso medicamentoso. A psicoterapia não é pessimista neste caso.

Contudo, as cicatrizes emocionais são tão profundas, que apesar do apoio e tratamento, Bia sente-se ferida duas vezes pelas ações egocêntricas de dois violadores de direito.
Para esta jovem menina, a recuperação e a cura podem levar muito tempo!

A violência e o abuso parecem estar crescendo principalmente em casa. Talvez já exista há muito tempo nesta proporção, e apenas agora estamos começando a conhecer a extensão deste problema que existe há séculos.

Com maior atenção da mídia e possibilidade de denúncias preservando o anonimato, muitos casos de negligências, abusos contra crianças, violência sexual, maus tratos psicológicos de crianças, mulheres e idosos, violência contra o cônjuge, estão sendo expostos e investigados.

Mas existe um fenômeno paradoxal: Observadores e especialistas tem confirmado (estatísticas também!), que esses problemas não estão só atraindo atenção, mas estão ficando piores. (Fonte: APA, 2018).

CASO ANDY - Quando o Chefe é negligente



Ainda enquanto estagiária de psicologia judiciária, me deparei com uma denúncia de negligência contra duas crianças pela mãe biológica e avó. A denúncia fora realizada por vizinhos que não quiseram ser identificados por medo de represália.

As crianças tinham 4 e 2 anos. A mãe era acusada de ser usuária de drogas, por isso passava dias fora de casa. A família morava em região insalubre, viviam do Bolsa Família, e na ocasião da audiência preliminar, se apresentaram como evangélicas.

O caso fora encaminhado pelo Conselho Tutelar, e na escuta eu estava apenas como observadora, minha supervisora era a encarregada de avaliar o caso para decidir se haveria processo ou não, e ainda intervenção da Justiça Restaurativa.

Minha supervisora, ao se deparar com o caso e se “condoer” com a realidade socioeconômica da família, não focara nas denúncias anteriores. Eu estava incomodada. Havia algo no discurso daquela mulher (avó) que não batia!

Minha intuição sempre foi admirável! Claro que intuição não é ônus de prova! Mas eu arrisquei meu pescoço, sugerindo que o caso fosse investigado mais de perto.

Fui convidada a ir a uma sala e o sermão começou: Isso aqui não é perícia! Você é apenas uma estagiária! Quem tem que investigar é a polícia!

Mas, crente na minha experiência de alguém que já foi abusada inúmeras vezes e baseada na Ciência de Análise do Comportamento, insisti, que fossem feitas novas perguntas e uma análise psicológica.

A denúncia fora feita! Foram tiradas fotografias que revelavam dentes de mandíbulas adultas na região pélvica da criança. Ela regrediu, parou de falar, a enurese era constante, não dormia e perdia pesos constantes.

Surgiu a hipótese de que drogavam a criança. Mas eu sabia! Tem apetite para tudo nesse mundo! Eu pus meu pescoço na forca!

Três meses depois recebi a notícia lá no Tribunal que o Caso foi para a Promotoria da Infância em Brasília, e a Polícia havia descoberto um centro de pedofilia local, nas adjacências de um bairro numa região nobre de Belo Horizonte.

O mérito não foi da estagiária! Não sei se Andy ficará bem. Nunca mais soube se sua irmãzinha também fora acolhida. A mãe biológica perdeu a guarda dos filhos e a avó, foi presa por incitação e corrupção de menor.

A violência e a pedofilia não têm rosto! Existem monstros e monstras!

Da mesma forma que o abuso é difícil de definir, sua incidência também é difícil de medir. Muitas vítimas não querem denunciar o abuso, principalmente quando o agressor é um membro da família.

As crianças e idosos muitas vezes não tem condições de fazer uma denúncia e algumas pessoas nem sequer se dão conta que o sofrimento que estão passando é uma forma de abuso.

Muitos de meus pacientes, quando me procuram enquanto psicoterapeuta, trazem dores, traumas e apagões. Quando os trazemos para lugares seguros, descobrimos que muitos estão em situação de grave abuso. Querem que façamos uma mágica para aliviá-los, mas jamais a denúncia!

Muitas vítimas de estupro têm vergonha de contar o que aconteceu, e outras não dizem nada porque tem medo de represálias se o estuprador for identificado ou preso.

UM CRIME JAMAIS RESOLVIDO – Quando a justiça oprime e destrói



Karen estava com 17 anos. Era emancipada devido sua orfandade. Estava em uma capital, se preparando para a Faculdade de Medicina. Trabalhava em uma Editora cerca de oito horas diárias, cinco dias na semana. Estava tentando a vida honestamente desde os 13 anos.

Certo dia, depois de uma sexta-feira exaustiva, Karen foi a um bar na cidade. Mesmo sendo menor, gostava de apreciar um drink. Um amigo músico lhe oferecera uma outra bebida. Era noite de luto. Aniversário da morte de sua mãe. Ela estava triste.

Depois da bebida, Karen apenas se recorda dos socos e da decoração mórbida de um quarto fétido. Foram três dias amarrada num sótão. O local tinha uma decoração com símbolos satânicos e um pote com sangue.

Ao ser acordada pela faxineira do Pub, seus pés e mãos precisavam ser desamarrados. Seu corpo estava completamente despido e sujo. Cortaram seu cabelo, e mutilaram suas costas e pernas.

Karen foi tirada daquele lugar e levada para um barraco onde a faxineira que a encontrou pode cuidar de seus machucados. Depois Karen foi levada a um hospital, e ao ser recebida, a encaminharam para o IML.

Ao chegar lá, foi atendida por um policial negro, de mais ou menos 2 metros de altura. Forte. Ele lhe ofereceu comida e água e depois a encaminhou para uma espécie de cela.
Foram horas sentada num banco frio que acabou por adormecer. Quando acordou, lembra que estava em uma sala, e fora novamente abusada! Lá ficou quase uma semana, gritou, mas ninguém a ouviu.

Foi jogada em uma rua qualquer. Jamais foi ouvida!

O local hoje não existe mais. Mas os donos nunca foram presos e os policiais nunca responderam por isso! Eu acompanho o Caso da Karen ainda hoje e, ironicamente, atendo na rua em que um dia ela fora lançada como indigente.

TIPOS DE ABUSOS

Abuso Infanto-juvenil

O termo abuso é difícil de ser definido, isto porque abrange tanto maus tratos físicos, quanto psicológicos.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1999), formaliza a condição de abuso quanto: comportamento que envolve violência física ou psicológica, abuso ou exploração sexual, tratamento negligente ou maus tratos a menores de 18 anos, por pessoa responsável pelo seu bem-estar e sob circunstâncias que indiquem que a saúde ou o bem-estar da criança está sofrendo dano ou ameaça”.

Maus tratos domésticos



Geralmente a mulher é vítima, pode ocorrer agressão física deliberada, ameaças de violência, constrangimento emocional (o que inclui a exposição ao ridículo, comportamento aviltante e negligência), e envolvimento forçado em atos sexuais.

A Lei 11.340, sancionada pelo Governo federal em 2006, criou mecanismos jurídico pautado nos direitos humanos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Mas para funcionar, precisa haver a denúncia.

Maus tratos de idosos



São violências praticadas contra pessoas mais velhas como, por exemplo, tratar a pessoa de maneira rude ou com brutalidade, bater, negligenciar, agredir com palavras, deixar de fornecer comida ou medicação, explorar financeiramente, maltratar sexualmente, ignorar suas necessidades de conforto, segurança e contato humano.

Abuso Sexual

O abuso sexual pode ocorrer juntamente com qualquer um dos anteriores e inclui o exibicionismo, o coito forçado ou outro comportamento sexual que a vítima não deseja, e as carícias nos órgãos genitais de indivíduo menor, inocente ou incapaz de oferecer resistência.

O ECA inclui também no emprego de crianças na produção de pornografia como exemplo de abuso sexual. Para maiores orientações, vide artigo desta autora: Transtorno Pedofílico: https://aempreendedora.com.br/transtorno-pedofilico-sem-cura-mas-controlavel-saiba-como/.

A tudo isso poderíamos ainda acrescentar o estupro, o crime, os castigos físicos de alunos por parte de professores e babás, a exploração sexual de pacientes por seus médicos e terapeutas, a violência praticada por adolescentes contra os moradores de seus bairros, a exploração física e emocional de empregados por parte de patrões, e muitos outros comportamentos em que um ser humano, deliberadamente causa sofrimento físico e emocional na tentativa de prejudicar uma vítima indefesa e involuntária.


O ENFRENTAMENTO DA DOR - RESILIÊNCIA



Resiliência é o termo que usamos para definir a capacidade de o indivíduo lidar com problemas, adaptar-se a mudanças, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas - choque, estresse, algum tipo de evento traumático.

O escrever e psicologar nos libertou das correntes da opressão da dor e indiferenças. Não é fácil estar aqui. Quando me tornei psicóloga jurídica e clínica, sabia que não seria fácil e nem em vão. Conheço a dor, e também a possibilidade da escuta, intervenção e cura.

Eu também tenho um grito dentro do meu peito que não foi escutado na ocasião da instalação da dor. Mas hoje, faço do grito e não da dor, uma voz que clama a favor de milhares de leitores e isso, não tem preço!

Hoje existe uma abertura maior e enfrentamento mais possível e acessível a direitos. Existem muitos obstáculos ainda a serem superados. A quantidade de casos registrados ainda é estarrecedora.

Por isso, continuaremos nessa luta. Pela voz que precisa ser ouvida, pelo corpo que clama pelo respeito e cura da ferida, pelo ser que precisa existir e ter um lugar na história. Vamos continuar.

Nesse lugar de luta e significação, vamos continuar a apoiar a mais de 1 milhão de mulheres no Brasil que enfrentam violência em seus lares, inclusive com armas. (Fonte: IPEA, 2019).

Cerca de 400 crianças são abusadas por horas no Brasil todos os dias!!!!!! (Fonte: OAB/RS). Sem contar a falta de índices sobre o incesto, ainda tolerado por muitas famílias. No Brasil, o Incesto é Tabu entre maiores. Não é crime!

É certo que esses números variam constantemente. A sociedade também muda socialmente com passar das épocas.  Contudo, não podemos consentir com esses abusos justificados pelas culturas e afins.

Converse, investigue e questione. Ao se dispôs em amar, a criança se sentira segura, confiante, e você, estará cuidando de sua integralidade.


Em caso de violação de direitos – não hesite em denunciar pelos canais principais:

1). Ouvidoria Online Disk Pedofilia:http://www.humanizaredes.gov.br/ouvidoria-online/. Um cadastro será solicitado para formalização da denúncia.

2). Disque 100 (Direitos Humanos): Vale ainda para acompanhar a denúncia, a partir dos dados da vítima e do (a) representante legal.

3) Nosso Canal de Atendimento On-line: (31) 98730-7130 - Segunda a Sexta de 09:00 as 17:00 h.


No próximo artigo, falaremos sobre as possíveis causas dos abusos e alguns contextos religiosos e antropológicos. Espero que você continue comigo!

Um abraço,
Christianne Sturzeneker
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