Ser - humano – Isso foi possível à Evolução? Minha indignação com a indiferença alheia
O que caracteriza um ser? O
que o torna humano? Teria mesmo a humanidade se tornado humana, ou caminhamos
para uma possível extinção de nossa raça devido a nossa falta de empatia?
Ser ou tornar-se
humano?
O que difere os homens dos demais entes seria sua razão, sentidos e
possibilidade de estabelecer cidades e viver em sociedade. Mas, e depois destes
séculos, com tantas conquistas, avançamos em nosso papel ou caminhamos para a
extinção?
Neste último final de semana,
em uma UPA lotada, devido ao surto da Dengue e suas variantes, na região
metropolitana de Belo Horizonte, eu pus em juízo nosso lugar de ser humano.
Se o que nos difere dos demais
mamíferos, seres, e objetos, são, além de nossa razão, nossos sentimentos e
afetos - [a Empatia, por exemplo]; dada a realidade local, pus em xeque esta
hipótese.
Oito
Horas de sofrimento
Oito horas de espera. Sem
condições nenhuma de amparo ou cuidado. Com dores incontroláveis pelo
paracetamol, em meio a delírios febris, eu era mais uma, em meio a epidemia que
persiste ano após ano nesta cidade, sem qualquer ação estratégia e profilaxia
adequada a realidade vigente. A desumanização viola os direitos humanos, no
tocante ao direito à saúde e à vida!
Mas vamos ao que nos diz a
lei! O artigo 196/CF define claramente que: “a
saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos
e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação”.
A Organização Mundial de Saúde
(OMS) define saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e
social e não somente ausência de afecções e enfermidades”.
Contudo a realidade que me
assistiu, na ausência de estratégia interventiva, falta de estrutura física e
profissional disponível ao fluxo vigente, justifica minha denuncia de
desumanização.
É sabido, pela fonte do
próprio ministério da saúde que não se pode desconsiderar, entretanto, a
realidade da escassez econômica e do sub financiamento da saúde, que pode
piorar ainda mais com a aplicação da Desvinculação de Receitas da União (DRU), prorrogada
até 2023 e ampliada pela Emenda Constitucional nº 93, de 8/9/2016, que
autorizou a União a realocar livremente 30% das receitas obtidas com taxas,
contribuições sociais e de intervenção sobre o domínio econômico (Cide), que
hoje são destinadas, por determinação constitucional ou legal, a órgãos, fundos
e despesas específicos.
Segundo o Deputado Estadual na
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, Antônio Jorge de Souza
Marques, a escassez econômica e subfinanciamento da saúde se somam a outros
fatores agravantes, como o envelhecimento da população e a incorporação de
novas tecnologias onerosas, para nos levar a uma encruzilhada entre o que é
direito e o que é possível. mas esses fatores não podem justificar a falta de
estratégias interventivas e melhorias a saúde pública brasileira.
Falta, por parte de nossos
políticos, a empatia necessária à condição de promoção de políticas publicas eficazes
a condição de uma população que tem acesso ao sistema, mas acesso inadequado e
inumano.
Apenas os usuários desse
sistema degradante e hipócrita, que, de fato, conhecem a cruel realidade e
escassez de fármacos e tratamentos condizente a real necessidade que os espera.
Quando digo que a “falta de
empatia consiste em meios para justificar tais ações inumanas”, eu me refiro ao
sentido denotativo da coisa. Estamos em um contexto sociocultural, em que a
elite, hierarquicamente tem acesso aos múltiplos meios de qualidade de vida, e
a população de um modo em geral.
Em uma nação com mais de 210
milhões de habitantes; destes, 58 milhões vivem na pobreza. Mais de 18 milhões
na miséria (IBGE, 2017). Contudo, 71% de toda, digo, toda a população nacional
tem acesso ao SUS. Acesso utilitário. Isso significa, que mesmo os que não tem
necessidade real dada as condições financeiras, utilizam o sistema em algum
momento.
Apenas 29 % da população tem
plano de saúde. Destes; poucos, tem acesso a cobertura total em caso de
cirurgias e intervenções de alta complexidade. Dado a essas estatísticas,
percebemos que nossa critica tem fundamento, por mais dura que soem as
palavras.
Tornar-se
Humano
A
humanidade não é uma conquista distante. Há cerca de menos de 100 mil anos
atrás, nosso protótipo de homem moderno dava seus primeiros passos para além
das cavernas. O homem de Neandertal, atravessaria então os limites de sua
instancia, e se estabeleceria mais tarde em comunas e cidades.
O
estabelecimento de agrupamentos humanos permitiu a raça humana, uma maior
adaptação aos fenômenos da natureza e conquistas de outros povos e animais
predadores. Além disso, a criação das cidades, trouxe ao mesmo a segurança
precisa para a sobrevivência da espécie em meio a cataclismas e pragas.
A fala, uma conquista ainda
mais recente que a nossa caracterização bípede, pode ter sido alcançada no
intervalo de tempo para a evolução da linguagem ou de seus pré-requisitos
anatômicos se estende, pelo menos em princípio, a partir da divergência
filogenética do Homo (2,3 a 2,4 milhões anos atrás) desde o gênero Pan
troglodita” (5 a 6 milhões anos atrás) até o surgimento de grande modernidade
comportamental há cerca de 150.000 - 50.000 anos atrás, (Nichols, 1998).
Mas e a empatia? Como
evoluímos a este lugar de compreender os sentimentos alheios e possibilitar
alternativas e alivio a dor e perpetuação da espécie? Quando o brasileiro se
tornou egoísta e desumano assim? Quando vai amadurecer? Tudo isso provoca um
certo sentimento de misantropia, até porque isso é muito humano.
De um modo em geral, fica mais
fácil entender que a armadilha em que essas pessoas caíram é muito sutil e
rasteira, pois evoca uma divisão social e sobretudo moral, apelando para
sentimentos básicos tolos e se desdobrando em várias direções, sendo a pior
delas a de provocar uma espécie tosca de “aliança” consigo mesmo. E os outros?
Não é problema meu!
Vale relembrar que é tradição
brasileira receber e acomodar esse tipo de situação. Contudo, uma boa parte das
pessoas alega que “é problema deles” ou, no limite, não querem se meter em
questões “alheias”.
Scansani, escrevendo ao
Instituto Burke, acerca da violência, narra:
“Resta-me, portanto, fazer eu
mesmo essa especulação e arrisco dizer que a soma de pasteurização relativista
e banalização de conceitos sérios tornou o ambiente propício a “corrupções de
inteligência”, tomando emprestado o termo de Flávio Gordon em seu estudo
fundamental A corrupção da inteligência, e criou um novo tipo de discurso
político e social que, não obstante, apesar de novo, permanece dissociado da
realidade.
Não é um bom caminho.”
(Scansani, 2018)
HUMANIZAÇÃO DA SAÚDE - URGÊNCIA SOCIAL |
Mais treze horas – A evolução
Como se não me bastasse, após
apresentar uma piora significativa do quadro da suposta dengue (ou similares),
procurei o Posto de Saúde (de novo!) para realizar um hemograma. Segundo
consta, a médica que deveria me atender estava atrasada, e o enfermeiro da
triagem achou pertinente que eu a esperasse para fazer um exame!
Como este exame só poderia ser
recolhido até as 14 horas [eu estava ali desde as 11 horas AM], o enfermeiro
acreditou que daria tempo de realiza-lo. Mas este foi meu último contato com
ele naquele dia: entraram para uma reunião de caráter emergencial e a
observação teve que se virar com duas técnicas de enfermagem e 23 pessoas
aguardando atendimento e soro.
A médica em questão chegou às
13:30 horas. Havia 14 pessoas aguardando para renovar receitas médicas. Eu
insistentemente e humildemente comuniquei a situação a ela e esta me
negligenciou até as 14:25 horas. Não tendo mais razão para me conter naquele
local e ante aos sintomas, me encaminhou para outra UPA, negando-me a
possibilidade de alta ou fazer exame em outro local ou data.
Precisei solicitar auxílio de
meu marido, tirando-o do trabalho, para que não fosse obrigada a entrar em uma
ambulância. Isso me custou 13 horas. Sim! Sai da UPA, em local de alta
periculosidade à 01:43 horas da madrugada. O exame mostrou que eu estava bem!
(Se tivesse mal, que diferença faria nesse contexto?)
Eu aproveitei bem as minhas 13
horas no inferno da UPA. Conversei sobre política, conspiração, futebol, Leis
Orgânicas do SUS e me inspirei nesta matéria. O marido não ficando viúvo,
pensou no divórcio! A ironia procede!
Mas eu não me divorcio com a
verdade. Não me divorcio com a responsabilidade de ser. De me tornar humana!
Através do Logos, eu dou meu grito de
liberdade e digo: É preciso rever a condição humana e seu valor!
Sei que apenas meu grito é
apenas incomodo, mas um país consciente de seus direitos e deveres, é abrir
espaço para algo melhor, e quem sabe não maior. Precisamos conhecer de perto as
leis que nos beneficiam enquanto cidadãos e cobrarmos da democracia e dos
representantes destas, esses direitos.
É a partir da educação,
informação e ação altruísta que iremos abrir espaço para um mundo mais digno, e
quem sabe, perpetuar nossa breve existência.
Pela mobilização de um mundo
mais justo e igualitário, nos aliamos a vós!
Que meu grito possa te
alcançar, e em uma esfera ainda maior, alcançarmos outros e compormos uma
grande melodia de direitos humanos.
Da amiga, recuperada. Chris
Viana
Comentários
Postar um comentário
Oi, este espaço é pra quem gosta de pensar, do existir e do abrir-se ao saber. Se você é assim, seja bem vindo(a)!