PARADOXIMO CRISTÃO E CAPITAL QUAL VERDADEIRO LUGAR DO LUCRO E DA ESPIRITUALIDADE?

A religião é tão antiga quanto a humanidade. A partir da subjetividade, damos sentido singular e verdadeiro, àquilo que consideramos mediante nossa fé e cultura. Nessas relações, o paradoxismo é inevitável, e quando falamos de capital, muitas vezes até conflituosa.

A Reforma Protestante foi um divisor de águas no Império Sacro-Romano, por trazer aos reformistas a grande oportunidade de distribuição de poder e conhecimento no ocidente.

Apesar de seu objetivo primordial se conferir ao que se tratava de uma “limpeza no clero”, suas ramificações contribuíram para grandes impasses sociais e econômicos, contribuindo inclusive, para a implantação do capitalismo. Mas qual seria esta contribuição para a Igreja?

O que nomearemos de o “espírito” do capitalismo, que é uma das máximas das obras fundadoras da sociologia moderna, está baseado no tratado “Ética”, (protestante), o trabalho mais conhecido de Max Weber (1864-1920).

Weber cria um “tipo ideal” de capitalismo, assim como cria “tipos ideais” de indivíduo, sociedade, etc. (Chies, 2007). Ele intentou a resposta quanto ao porquê de os protestantes se comportarem como mais hábeis no comércio que os católicos.

Para isso, em sua tese, explica que o capitalismo é um produto religioso, ele faz uma importante “historização” das religiões protestantes, explicando como estas se originaram, seus dogmas, e sua contribuição para o capitalismo:

“ [...] as questões de percepção, intenção e interesses comerciais baseados em
sua filiação religiosa e estratificação social, poderiam culminar para este “espírito empreendedor”.
(Chies, 2007)

A relação atual entre o “espírito” do capitalismo e a religião é diferente da relação original. As pessoas que hoje estão dominadas pelo “espírito” do capitalismo são indiferentes e não hostis com a igreja.


Os homens modernos existem em razão do seu negócio, e não mais em razão da religião, de D’us. O “espírito” do capitalismo, de origem religiosa, perde posteriormente seu conteúdo religioso.

Os trabalhadores se relacionam com o capitalismo de forma tradicional. Quando se aumenta o salário, espera-se que o trabalhador se anime para trabalhar mais, com a relação atual entre o “espírito” do capitalismo e a religião é diferente da relação original.

O trabalhador começa a trabalhar menos. Ele trabalha apenas para atingir o valor que é necessário para suprir suas necessidades. Então, o aumento de salário não estimula a produção, e sim o contrário. Mas por outro lado, a diminuição do salário não estimula (a longo prazo) a produção. 
Qual seria então a solução para aumentar a produtividade? Para que isso ocorra, o trabalho deve ser estimulado, executado como uma “vocação”. “Tal atitude, todavia, não é absolutamente um produto da natureza.

Ela não pode ser provocada por baixos salários ou apenas salários elevados, mas somente pode ser o produto de um longo e árduo processo de educação” (WEBER, 1987, p. 39), sequentemente, ganhando mais. Mas não é isso o que acontece.

O trabalhador começa a trabalhar menos. Ele trabalha apenas para atingir o valor que é necessário para suprir suas necessidades. Então, o aumento de salário não estimula a produção, e sim o contrário. Mas por outro lado, a diminuição do salário não estimula (a longo prazo) a produção.

Qual seria então a solução para aumentar a produtividade? 

Para que isso ocorra, o trabalho deve ser estimulado, executado como uma “vocação”. 

“Tal atitude, todavia, não é absolutamente um produto da natureza. Ela não pode ser provocada por baixos salários ou apenas salários elevados, mas somente pode ser o produto de um longo e árduo processo de educação” 

(WEBER, 1987, p. 39 – apud Chies, 2007)


E as vocações capitalistas no inseridas no contexto eclesiástico da igreja contemporânea, combina com os princípios básicos do Cristianismo dos Apóstolos? Sendo a proposta da Igreja de Atos

“E na alma de cada pessoa havia pleno temor, e muitos feitos extraordinários e sinais maravilhosos eram realizados pelos apóstolos.
Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum.
Vendiam suas propriedades e bens, e dividiam o produto entre todos,
 segundo a necessidade de cada um”.
(Atos 2:43-45)

Não existe na formação da Igreja Cristã, nenhuma contextualização de enriquecimento pessoal, titularidade e interesses de capitalização de rendas e lucros.

Logo, a proposta de Weber, explica essa contextualização e sua evolução até os dias de hoje, a partir dos princípios que nortearam a mente de uma geração que fora altamente oprimida pelo clero, à partir das praticas de indulgencias e usura, usando e articulando as escrituras para seus próprios fins e interesses pessoais (ganância):

E, na verdade, esta ideia peculiar do dever profissional tão familiar
a nós hoje, mas, na realidade, tão pouco evidente, é a mais característica da
“ética social” da cultura capitalista, e, em certo sentido,
 sua base fundamental.
E uma obrigação que o indivíduo deve sentir e que realmente sente,
com relação ao conteúdo de sua atividade profissional,
não importando no que ela consiste, e particularmente,
se ela aflora com uma utilização de seus poderes pessoais
ou apenas de suas possessões materiais (como “capital”)
(WEBER, 1987, p. 33-34).

A explicação religiosa da vocação foi de extrema importância para justificar as divisões do trabalho no capitalismo, pois estas divisões não poderiam ser injustas, visto que cada indivíduo desempenhava a função que D’us havia lhe destinado.

O trabalho vocacional era um instrumento de ascese e, ao mesmo tempo, um meio seguro de preservar a fé. Essa é a mais poderosa expressão do “espírito” do capitalismo, segundo Weber, (Chies, 2007). 
Mamon - Dicionário Infernal, 2006.
Em Cristo, temos o referencial: “Não podeis servir a D’us e a Mamonah” - "Mamom" (מָמוֹן), que significa literalmente "dinheiro". (Vide Lucas 16:13).

Penso que grande parte da problemática das questões sobre mau uso do dinheiro arrecadado nas ofertas e dízimos, das fraudes, subornos e mentiras que permeiam esta esfera na Igreja, poderiam ser resolvidas, conhecendo a essência dos princípios que nortearam a criação da Igreja Cristã, e sua evolução no contexto sócio histórico, até os dias de hoje.

Episódios citados no livro de Atos, como ação do Tzedeq (justiça – צדקה) de D’us, gerava temor na Igreja, A exemplo citamos Ananias e Safira:

Mas um certo homem chamado Ananias, com Safira, sua mulher, vendeu uma propriedade, e reteve parte do preço, sabendo-o também sua mulher; e, levando uma parte, a depositou aos pés dos apóstolos. Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço da herdade? Guardando-a não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus."

E Ananias, ouvindo estas palavras, caiu e expirou. E um grande temor veio sobre todos os que isto ouviram.” (Atos 5:1-5) . O erro fatal de Ananias e Safira foi a mentira! A mentira em função da ganância e de seus próprios interesses, em apropriarem-se do que era de todos somente para si.

Em dias atuais, temos recebidos grandes críticas a pastores e líderes nestas condições. Abrimos a reflexão: Mas o que nós temos feito para mudarmos esse quadro?

Não temos um “espírito socialista” no seio da igreja nos dias atuais (... não no interesse político, como supressão da propriedade; o que seria utópico dentro da contextualização histórico-social e econômica contemporânea, mas como um neologismo, por falta de um outro vocábulo no momento, sugerindo uma opção de organização social que permite aos cristãos viverem em comunhão) regendo o comportamento coletivo no seio cristão.

Assim como é impossível traçar uma linha tênue no que se trata da evolução do judaísmo para o cristianismo, seria impossível o “espírito da Igreja de Atos” justificar o interesse capital, a fonte de lucro e oportunismo em muitas ramificações eclesiásticas como resultantes apenas do processo capitalista.


Certo de que este movimento influenciou o pensamento e comportamento de muitos ditos cristão, porém estes jamais justificariam quaisquer ações de opressão feitos por esses falsos líderes. 

Concluo citando em especial, uma frase do célebre de John Pipper:


“Minha própria sensação é que a história, a razão e uma maior reflexão bíblica levam à conclusão de que liberdade e direitos de propriedade levam a um bem-estar de maior longo prazo; ou, como dizemos hoje em dia, prosperar em maior número. Também não podemos deixar de dizer, finalmente, que todo sistema político e econômico eventualmente entrará em colapso onde há impulsos morais insuficientes para restringir o egoísmo humano e encorajar a honestidade e as boas obras mesmo quando ninguém está vendo.”

Chamamos nossos leitores à reflexão:

“Qual é o meu papel e minha ação mediante a todos essas relações de diferenças sociais e seus impactos na sociedade atual? Como posso equilibrar o real e o ideal, sem inferir ao próximo injustiça ou danos maiores do que estes que levam 52 milhões de pessoas, refletirem essa realidade triste e fatídica de desigualdade?”



Independente de cristãos ou não, ser humano é rever muitos conceitos, e se preciso for, o capital, talvez seja esta a hora de reinventarmos o sentido desta humanidade.

Com vocês, sempre;

Chris Viana

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